Rodrigo Lopes
Em 20 anos de jornalismo, praticado algumas vezes em terras devastadas por guerras ou tragédias naturais, aprendi que o ser humano se revela por inteiro na hora da dor. É quando caem as máscaras. Por isso, um desastre, natural ou provocado pela mão do homem, é um fenômeno antropológico interessante. É quando aparece o melhor do ser humano: no Líbano, por exemplo, em 2006, vi civis enjambrando uma passagem sobre uma ponte bombardeada, para fugir do sul do país, alvo da aviação israelense. Mas é também quando aflora seu lado mais bestial: no terremoto no Haiti, em 2010, assisti a uma multidão invadir um supermercado de Porto Príncipe, correr na minha direção roubando a todos no caminho – inclusive a mim, que tive saqueada a máquina fotográfica.