Em 15 dias, Donald Trump precisou enfrentar dois grandes furacões, que o obrigarão não só a abrir a mão e despender recursos federais ainda não calculados, mas a engolir seco seu conhecido discurso negacionista sobre mudanças climáticas. Cumprindo promessa de campanha, o presidente retirou os EUA do Acordo de Paris, assinado por seu antecessor, Barack Obama, em que o governo se comprometia em limitar, drasticamente, a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Essa era a face mais visível de seu ceticismo — ou interesse às avessas — em relação ao aquecimento global. Há outras medidas tomadas nos últimos meses pela Casa Branca que nem sempre ganham destaque por aqui. Trump reduziu o orçamento da Agência Ambiental Americana e ordenou a retirada de links sobre aquecimento global de sites de órgãos federais.
E então vieram dois dos maiores furacões da história americana. Sempre ocorreram, dirão alguns. É verdade, mas até os mais céticos dos cientistas admitem que sua intensidade, frequência e consequências são — e serão — amplificadas pela mudança climática que Trump nega.
Os ventos no Texas e na Flórida foram o mal menor. O problema foram os alagamentos provocados pelo deslocamento de grande quantidade de água. Ou alguém ficou indiferente às imagens dos locais onde o mar foi sugado pelo vento?
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É preciso admitir: nessas duas semanas entre Harvey e Irma, as autoridades americanas se recuperaram em termos de planejamento e evacuação de populações. Não vimos na Flórida cenas de abandono como as que assistimos no Texas. Mas o primeiro estado está mais preparado, pelo histórico de tempestades, do que o segundo em casos de furacões.
Harvey e Irma obrigarão o Congresso dominado pelos republicanos a aprovar bilhões de dólares na reconstrução de cidades do Texas e da Flórida, fala-se em mais de US$ 300 bi. Ironicamente, foram os republicanos que defenderam o corte dos programas de prevenção contra enchentes do país. O barato saiu caro.