Ninguém no governo pode dizer que foi surpreendido com o tamanho das manifestações ocorridas em todo o território brasileiro neste domingo. Eram pedra cantada diante do agravamento da crise política. A primeira e óbvia conclusão a respeito dos protestos é que eles injetam combustível no processo de impeachment que corre na Câmara e que deverá ter rito definido na quarta-feira pelo Supremo Tribunal Federal.
Há uma semelhança inquestionável com as manifestações que precederam a derrubada de Fernando Collor em setembro 1992. A diferença é que Collor estava sozinho. Eleito por um partido nanico, o PRN, Collor não tinha militantes para defendê-lo. Os sindicatos estavam contra ele e não havia qualquer possibilidade de resistência. Dilma ainda tem um núcleo de apoio que tenta resistir com frases de efeito como "não vai ter golpe" e "vai ter luta", mas no Congresso, onde o futuro vai se decidir, a situação dela é delicada.
A presidente ficou ainda mais fragilizada depois da convenção nacional do PMDB, que no sábado deu uma espécie de aviso prévio ao governo e marcou a discussão da saída para daqui a 30 dias. Ninguém defendeu o governo. A discussão sobre se Dilma cometeu ou não crime de responsabilidade tornou-se secundária Os líderes da oposição e agora os do PMDB somam aos fatos já confirmados as informações ainda não confirmadas de delatores da Lava-Jato, como o senador Delcídio Amaral, altamente comprometedoras para o governo.
O cerco ao ex-presidente Lula torna ainda mais difícil a situação de Dilma. Longe de melhorar sua situação, as especulações de que Lula poderá ser nomeado ministro nos próximos dias só complicam a situação. Se Dilma nomear o ex-presidente, passará para o país a ideia de que está tentando driblar a Justiça ao garantir foto privilegiado para um cidadão investigado na Lava-Jato. Diferentemente do que pensam os petistas mais apaixonados, Lula também está longe de ser o craque capaz de salvar o time numa Batalha dos Aflitos.
A ideia de fazer de Lula uma espécie de primeiro-ministro, imaginando que seja capaz de salvar um governo desastrado em matéria de articulação política, não se sustenta nos fatos. As manifestações de domingo não foram apenas contra o governo Dilma: Lula e o PT estiveram o tempo todo, em todos Estados, no centro dos protestos.