No fim de semana passado estive em Canela, cumprindo o que já se incorporou no meu calendário de maio: participar de seminário que encerra a Semana do Bebê. São 17 anos dessa iniciativa que começou pelas mãos dos médicos Salvador Celia (de saudosa memória) e Odon Cavalcanti e do radialista Pedro Dias, conquistou o reconhecimento da Unesco, espalhou-se por outras cidades do Brasil e ganhou réplicas em países vizinhos. Foi o dr. Celia quem me converteu à causa da primeira infância.
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A Semana do Bebê estava lá pela terceira ou quarta edição quando o dr. Celia veio à redação de ZH me convidar para fazer uma palestra. Achei que ele estava brincando. O que eu teria a dizer sobre cuidados com bebês, se criei meus filhos aos trancos e barrancos, conciliando a maternidade com esta profissão absorvente de jornalista? Pois era isso o que ele queria: um depoimento de mãe comum, para falar ao lado de uma pessoa famosa. Já dividi a mesa com Gabriela Duarte, Isabel Fillardis, Regina Duarte e Renato Aragão, entre outros.
Nasceu ali uma amizade que se transformaria em devoção, à medida em que eu conhecia o trabalho do dr. Celia em favor dos bebês. Das primeiras vezes falei das minhas inquietações de mãe, mas meus filhos foram crescendo e já não fazia sentido um depoimento pessoal. Passei a buscar informações sobre políticas públicas, para poder compartilhar com a plateia. Neste ano, fui buscar com o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, um compromisso com a primeira infância, agora que tem a caneta na mão para implantar um programa nacional de atenção às crianças de zero a três anos. Pai do programa Primeira Infância Melhor no Estado, Terra mandou uma gravação pelo WhatsApp e eu prometi ao público que em 2017, na maioridade da Semana do Bebê, estarei lá, como uma versão atualizada do índio Juruna com seu gravador, conferindo o cumprimento da promessa.
Na volta de Canela, feliz com os números compilados pela professora Carmen Nudelmann, da Ulbra, sobre a participação do público na Semana do Bebê, recebi a carta de uma amiga querida, contando o drama de sua sobrinha de 10 anos, que sofre de transtorno bipolar. A história me deixou abalada, com uma pergunta martelando o cérebro: o que eu posso fazer por essa menininha? A única ideia que me ocorre é resumir o drama nesta crônica, na esperança de que alguma pessoa no governo do Estado leia e tome uma providência.
A menina, a quem aqui chamarei de Bela, foi diagnosticada com transtorno bipolar no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, aos cinco anos. Desde então, está em tratamento com psiquiatra e psicólogo e toma a medicação recomendada. Frequenta a mesma escola pública desde o 1° ano. A mãe sublinha: "com ótimo desempenho e bom relacionamento com professoras, colegas e funcionários". Só que agora, no 4º ano, Bela está enfrentando uma fase difícil. Com a doença de uma pessoa da família e as transformações naturais da pré-adolescência, o transtorno se acentuou, a conduta na escola se modificou e ela passou a entrar em conflitos com alguns colegas e com a professora.
"Desde o começo desta nova fase estive atenta às muitas queixas da professora, tentando apaziguar e orientar minha filha e buscando ajuda dos profissionais que a acompanhavam", conta a mãe. No final de abril, com as dificuldades e crises aumentando, foi necessária uma internação psiquiátrica de 15 dias. Na volta à escola a menina teve uma crise e só se acalmou com a chegada da mãe. No dia seguinte, em conversa com a diretora da escola e a psiquiatra da menina, a mãe concordou que ela ficaria afastada da escola até que a psicoterapia e ajustes na medicação produzam os efeitos necessários para que ela volte às aulas. O problema é que a professora não esconde a impaciência com a criança e não lhe dirige a palavra.
Procurada, a Coordenadoria Regional de Educação propôs que a menina fique estudando em casa, com roteiro e atividades enviados pela professora e, para não perder o vínculo com a escola, frequente uma vez por semana, por uma hora, a sala de recursos. A professora enviou apenas atividades, mas sem o material dado em aula.
A mãe de Bela não pede nada além de uma vaga em uma escola inclusiva. Uma escola que se disponha a ajudar sua filha. Pública, porque não tem dinheiro para matricular a criança em uma escola particular.