A estratégia original do governo Michel Temer era apresentar a proposta de reforma da Previdência assim que a emenda que fixa o teto dos gastos fosse aprovada na Câmara e começasse a tramitar no Senado. Como isso não ocorreu, até a aprovação da PEC 55 no Senado, em primeiro turno, acabou ofuscada pela votação que desfigurou as 10 medidas contra a corrupção. O governo perdeu o controle da agenda política e abriu espaço para mais um princípio de crise, com especulações sobre a possível saída do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, enfraquecido pelos boatos de que Temer pretendia ouvir mais os líderes do PSDB e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Foi com a clara intenção de apagar o incêndio que Temer apareceu ao lado de Meirelles para falar da reforma da Previdência, que será encaminhada ao Congresso na terça-feira. Com eles, estava o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que passou a semana passada em licença médica e que nesta segunda-feira virou centro das atenções com a notícia de que a Justiça determinou o bloqueio de R$ 108 milhões dele e de seus sócios em fazendas em Mato Grosso, por danos ambientais.
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Depois de perder seis ministros em pouco mais de seis meses, com seus homens fortes atingidos por fatos e boatos e as ruas bufando contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, Temer precisava de um tema de peso para a agenda política. Minutos depois de ter anunciado que a reforma da Previdência chegará à Câmara amanhã, veio a público a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, que afastou Renan da presidência do Senado, em uma ação movida pela Rede Sustentabilidade.
A liminar, assinada às 15h, tem efeito imediato, o que significa um problema a mais para o Palácio do Planalto. Com o afastamento de Renan, assume o 1º vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC). Adversário de Temer e adepto da tese de que Dilma Rousseff foi vítima de um golpe, Viana ganha poder de decisão sobre a pauta de votação no momento em que o Senado está para apreciar a PEC do teto dos gastos em segundo turno. O governo mantém a intenção de votar a emenda no dia 13 e promulgá-la dia 15 de dezembro, mas com Jorge Viana no comando, nada mais está garantido.