Jornalista formada pela PUCRS, colunista de Política de ZH e apresentadora do programa Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha.

Guerra de versões

Governo diz que negativa da Assembleia em dar continuidade ao plebiscito foi uma manifestação política

Legislativo diz que governo não cumpriu as regras para solicitação de consulta pública. Ambos tem interpretações distintas do que diz a lei

Débora Cademartori

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Em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, no Palácio Piratini, o líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza (PMDB), classificou como uma manifestação política a negativa do Legislativo em seguir com a tramitação de proposta que autoriza plebiscito para privatização de estatais. Nesta manhã, o presidente da Casa, Edegar Pretto (PT), afirmou não haver condições legais para continuidade e tramitação da proposta.

Na terça-feira, após perceber que não tinha apoio suficiente, o governo do Estado retirou de pauta na Assembleia a PEC que excluía da Constituição a necessidade de consulta pública para a privatização de CEEE, Sulgás e CRM. No dia seguinte, entregou a Pretto um ofício assinado pelo governador José Ivo Sartori pedindo a formulação de um projeto de decreto legislativo para convocação de plebiscito ao TRE. Concomitante à solicitação, nesta quinta-feira, Gabriel Souza protocolou, ele mesmo, com a assinatura de 19 deputados, um projeto de decreto legislativo (PDL).

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Tanto a proposta de Gabriel quanto o ofício de Sartori foram desconsiderados pelo Legislativo. Na interpretação da procuradoria da Casa, endossada por Pretto, o Piratini deveria ter enviado um projeto de lei (PL) explicitando o objetivo do governo em vender as estatais, e não um ofício. Já o PDL do deputado não tramitou e foi devolvido porque não há esse projeto prévio. Em resumo, técnicos do parlamento afirmaram que a proposta de autorização para plebiscito só teria continuidade quando o governador oficializar, por meio de PL, a privatização das empresas.

O governo do Estado foi avisado oficialmente sobre o posicionamento do Legislativo nesta tarde. Gabriel afirmou que a notificação encaminhada sobre o ofício não enumera os argumentos ditos à imprensa pela manhã.

À coluna, o parlamentar afirmou que vai recorrer da decisão ao plenário ou à Comissão de Constituição e Justiça. Na entrevista coletiva, o deputado, o secretário da Casa Civil, Fábio Branco, e o procurador-geral do Estado, Euzébio Ruschel, sustentaram que o projeto de lei pedido pela Assembleia deve ser protocolado após a aprovação, em plebiscito, da venda das estatais. Afirmaram que, se Sartori protocolasse a proposta, seria inconstitucional porque é atribuição do Legislativo promover e informar a realização da consulta pública ao Tribunal Regional Eleitoral. O governo deveria apenas manifestar sua vontade oficialmente.

Tanto o governo do Estado quanto a Assembleia evocam a mesma lei estadual, de 1991, a lei federal que regulamenta o plebiscito e a Constituição do Estado.

Mesmo se Gabriel recorrer ao plenário, não haverá tempo para a realização da consulta pública neste ano. Se o rito for acordado entre os dois poderes, é mais provável que a votação fique para 2018, com as eleições.

Se a população aprovar a privatização, caberá ao Legislativo autorizar ou não, por meio de votação em plenário, a venda das estatais, como quer Sartori. Os deputados podem, por exemplo, contrariar a vontade da maioria da população.

A privatização ou federalização de CEEE, Sulgás e CRM é uma condição imposta pela União para que o Estado possa aderir ao Regime de Recuperação Fiscal elaborado pelo Ministério da Fazenda. Sancionada por Michel Temer no mês passado, a ajuda prevê carência de 36 meses no pagamento da dívida com o governo federal e o aval para um empréstimo.

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