Com a alegação de que não tinha como responder a tantas e tão complexas perguntas da Polícia Federal em 24 horas, a defesa do presidente Michel Temer pediu – e levou – mais prazo para devolver o questionário. O ministro Edson Fachin considerou a demanda razoável e deu mais três dias (até sexta-feira, às 17h) para Temer cumprir o dever. São 82 perguntas numeradas, algumas delas desdobradas em três ou quatro questões, outras repetitivas, como se faz nos interrogatórios orais, para abordar o mesmo assunto por outro ângulo.
A lista de perguntas indica que a PF tem informações que ainda não vieram a público. É o caso da questão 47: " Vossa Excelência tem alguém chamado EDGAR no universo de pessoas com quem se relaciona com certa proximidade? Se sim, identificar tal pessoa, mencionando a atividade profissional, eventual envolvimento na atividade partidária, descrevendo, ainda, a relação que com ela mantém".
Edgar é um nome novo no enredo. Pela ordem em que foi incluído no questionário, passa a ideia de que tenha ligação com o Porto de Santos, já que as perguntas seguintes se referem ao Grupo Rodrimar, de Santos, a seu proprietário, Antônio Celso Grecco, e às relações da empresa com Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala de R$ 500 mil..
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O questionário é repleto de detalhes que remetem à delação dos executivos da JBS e à gravação feita por Joesley Batista com Temer, na noite em que ele entrou no Palácio do Jaburu sem precisar passar pelos procedimentos da segurança.
A pergunta 41 é direta: "Ricardo Saud, em depoimento prestado na Procuradoria-Geral da República, conforme vídeo já amplamente divulgado, afirmou que tratou com Rodrigo da Rocha Loures sobre os repasses semanais (de R$ 500 mil) já mencionados, mas ressaltou, categoricamente, que o dinheiro era direcionado a Vossa Excelência. O que Vossa Excelência tem a dizer a respeito?".
Mais de uma vez, a Polícia Federal fala em eventual delação do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que está, de fato, negociando um acordo de colaboração, e de Eduardo Cunha. Na 19, por exemplo, a pergunta é direta: "Existe algum fato objetivo que envolva a pessoa de Vossa Excelência e seja passível de ser revelado por Lúcio Bolonha Funaro ou Eduardo Cunha, em eventual acordo de colaboração?".
A exemplo das perguntas encaminhadas por Eduardo Cunha a Temer, na condição de testemunha, e que foram parcialmente vetadas pelo juiz Sergio Moro, os questionamentos da PF devem ser lidos como um roteiro. Temer pediu tempo porque precisa responder com a ajuda de advogados, sabendo que cada resposta poderá ser usada contra ele. Se disser que não conhece determinado personagem, por exemplo, e ficar provado que tem (ou teve) intimidade com eles, a defesa ficará comprometida. Por essas e outras não será surpresa se as respostas vierem imprecisas.