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Tinham razão os aliados do presidente Michel Temer ao disparar o alarme quando Sergio Zveiter foi escolhido relator da denúncia contra ele na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Mesmo sendo um deputado da bancada do PMDB, Zveiter cumpriu a promessa de apresentar um relatório independente, até para honrar sua trajetória de ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro.
Seja qual for o resultado da votação da CCJ, Temer já larga perdendo de 1 a 0 e com um pênalti marcado. Porque Zveiter escreveu em seu parecer que os elementos apresentados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, são suficientes para justificar o inquérito pelo Supremo Tribunal Federal. Zveiter não só deu parecer favorável ao prosseguimento da investigação, como usou argumentos que qualquer deputado de oposição assinaria embaixo.
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Temer sai perdendo porque a eventual vitória na comissão terá a legitimidade contestada. Por orientação do governo, foram afastados os titulares que planejavam votar contra o presidente e também os que não estavam predeterminados a votar pelo arquivamento sem nem mesmo ouvir os argumentos do relator. Pelo menos 14 titulares e suplentes foram substituídos. Entre eles, o deputado José Fogaça (PMDB-RS), que não quis definir o voto antes de conhecer o parecer de Zveiter e a defesa de Temer. Fogaça foi substituído pelo folclórico Carlos Marun, que disputa com Darcísio Perondi e Alceu Moreira o título de governista mais convicto.
Houve um princípio de bate-boca entre Perondi e o relator.
– Você foi um bom promotor – provocou Perondi.
Irritado, Zveiter, faixa preta de jiu-jítsu, deu dois tapas nas costas de Perondi e respondeu:
– Eu só não te dou um soco agora porque você é um merda.
Os governistas trataram a abertura do processo como se fosse o julgamento definitivo e não o início da investigação. O relator sustentou que a CCJ não poderia simplesmente ignorar as provas e invocou o princípio jurídico "in dubio pro societate".
O grande teste de Temer não será a CCJ, mas o plenário da Câmara. É lá que cada deputado terá de ir ao microfone para declarar seu voto.
Aliás
A propaganda do PMDB gaúcho diz que "aqui é diferente", mas quatro dos cinco deputados da bancada integram a tropa de choque de Michel Temer e não querem que o presidente seja investigado.
Carão
Sinal de que azedaram de vez as relações entre Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer: o tucano não encontrou espaço na agenda para conversar com o presidente. A atitude equivale ao que nos bailes de antigamente se chamava de "carão". O motivo de FHC para não aceitar o convite de Temer é banal: ele viaja em férias para o Exterior nesta terça-feira e só retorna depois de três semanas.