Pela proximidade de Lúcio Funaro com caciques do PMDB, não restava dúvida de que a delação do doleiro alcançaria o presidente da República, Michel Temer, e seus mais fiéis aliados, entre eles, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A convivência com os peemedebistas por mais de 10 anos rendeu documentação que supostamente comprova o envolvimento de Temer em lobby feito em favor de políticos, cobrança de repasses via caixa 2 e recebimento de propina. O conteúdo da delação é revelado pela revista Veja deste final de semana.
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Em um ponto mais relevante do depoimento, Funaro conta ter intermediado pagamento de R$ 7 milhões da JBS a Temer, Cunha e ao ex-ministro da Agricultura Antônio Andrade, em 2014. Outro repasse de R$ 1,5 milhão foi acordado com o Grupo Betin ao então vice-presidente da República.
O Palácio do Planalto divulgou nota informando que o presidente "pode ter sido apresentado rapidamente a Lúcio Funaro na base aérea de São Paulo", há alguns anos. Pelo conteúdo da delação do doleiro, a proximidade física entre eles não era necessária. Em suma, Temer mandava e Cunha gerenciava as tarefas com a ajuda de Funaro. Um exemplo foi o repasse de R$ 5 milhões do Grupo Constantino à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. Cunha havia dito ao operador do PMDB que a ordem havia partido de Temer.
Ao contrário da relação com Funaro, Temer era próximo de Eduardo Cunha. Conforme adiantou Veja, no período em que começou a tramitar o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente da Câmara e o vice da petista "confabulavam diariamente". Antes de aceitar um dos pedidos, o ex-deputado ligou para Funaro e perguntou se conseguiria levantar recursos para a compra dos votos contra Dilma. O banqueiro informal do PMDB disse aos investigadores que disponibilizou o dinheiro sem dar detalhes da quantia. Em outra delação, a da JBS, Joesley Batista disse que pagou R$ 3,5 milhões a cinco parlamentares para arquivar o impeachment.
Entre a documentação farta entregue ao Ministério Público Federal por Funaro, estão registros de mensagens de celular, histórico de voos do jatinho particular do doleiro, planilhas de pagamentos e extratos bancários.
A lista de afazeres do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, até o dia 17 de setembro, está quase toda riscada. Mesmo com a delação dos executivos da JBS prestes a ser revista, Janot não hesitará e encaminhará ao Supremo Tribunal Federal a segunda e última denúncia contra Temer na próxima semana. Se não houvesse prazo tão apertado, fatiaria os pedidos de investigação, como planejado anteriormente.
O procurador-geral colocará em um mesmo documento a ser encaminhado ao STF supostos crimes relatados em pelo menos sete delações. Além das declarações de executivos da JBS e de Funaro, serão usados depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef, do operador Fernando Baiano e do ex-diretor da Transpetro Sergio Machado.