
Acuado pela delação do companheiro Antonio Palocci e já condenado uma vez em primeira instância, o ex-presidente Lula partiu para o tudo ou nada no depoimento desta quarta-feira ao juiz Sergio Moro, em Curitiba. Em tom de confronto, acusou Moro de ter sido injusto com ele, respondeu de forma ríspida a algumas perguntas do juiz e da procuradora Isabela Groba Vieira e tentou desqualificar o Ministério Público Federal.
Ficou claro que se tratava de uma estratégia, já que em outro inquérito adotou um tom diferente, mais respeitoso e, mesmo assim, Moro o condenou.
Visivelmente abatido, Lula deu vários sinais de irritação ao longo da audiência, conduzida por Moro com voz baixa e no mesmo tom monocórdio de todos os outros interrogatórios.
– Talvez o senhor esteja um pouco rancoroso – disse Moro.
Lula respondeu:
– Eu não estou rancoroso. Eu fico preocupado, doutor Moro, quando as pessoas inventam uma história e tentam a cada momento transformar aquela inverdade em verdade. [...] No caso do Ministério Público, eles contaram uma grande mentira. Eu quero ver como eles vão sair dessa.
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Incomodada por ser chamada de “querida”, a procuradora pediu a Lula que se referisse a ela pelo tratamento protocolar. Moro determinou que Lula se referisse a Isabel como “doutora” ou “senhora procuradora”.
Apesar de continuar chamando Palocci de companheiro, disse que seu ex-ministro é “frio e dissimulado” e que inventou uma história para escapar da cadeia.
A reação de Palocci dá a medida do tamanho da ruptura entre o ex-presidente e o comandante da sua equipe econômcia no primeiro mandato. A nota divulgada pelo advogado do ex-ministro diz: “Enquanto o Palocci mantinha o silêncio, ele era inteligente e virtuoso; depois que resolveu falar a verdade, passou a ser tido como calculista e dissimulado. Dissimulado é ele, que nega tudo o que lhe contraria e teve a pachorra de dizer que se encontrava raramente com Palocci, a cada oito meses. Quando lhe foi apresentada a agenda do Dr. Emilio Odebrecht esquivou-se, dizendo que o documento é falso. Essa é a lógica dele: os que o acusam, mentem, os documentos são falsos, e só ele diz a verdade”.
Aliás
A proposta de dobrar para 41 anos a pena de José Dirceu, feita pelo relator do recurso no TRF4, é um mau sinal para o ex-presidente Lula. O desembargador João Pedro Gebran Neto tem se mostrado mais duro do que o juiz Sergio Moro.