Nesses momentos de crise, vejo muita gente entristecida. O bombardeio de desesperança é intenso. Nós somos o alvo. Alvo fácil, indefeso. O pior é que nada do que contam por aí é invenção. O desemprego, a roubalheira, a violência, a inflação. Os monstros saíram da imaginação e invadiram nossas casas.
Muita gente sente culpa por estar feliz. Constrange-se por demonstrar alegria em público. Acha que gargalhar é pecado. Esse é o maior perigo. A gente pode perder quase tudo, mas, se perder o humor, será o fim.
De uma hora para outra, começamos a achar que os emburrados crônicos têm razão. De um lado, Bolsonaro vira herói. Do outro, Lula se autoproclama deus da honestidade. Caímos na armadilha: pensar a vida pelo lado cinza virou realismo. Temos certeza de que apostar no caos é o jeito mais fácil de vencer. A indignação fácil e burra se fortalece. Ganha espaço. Vira moda.
Precisamos resistir. Não se trata de fechar os olhos ou de ser ingênuo. Nem de sair por aí ofendendo aos gritos quem discorda. A resistência é interna. Principalmente, porque a felicidade de cada um não depende do governo, nem do Eduardo Cunha, nem do STF, nem de uma coluna de jornal. A esperança está nos números. O Porto Verão Alegre, festival de cultura que agita a Capital em janeiro e fevereiro, está batendo recordes de público. Todos os ingressos do Planeta Atlântida foram vendidos. O Festival Sesc de Música, em Pelotas, é um arraso.
Irritar-se com a alegria dos outros é uma das formas mais explícitas de egoísmo. Ofender-se com a gargalhada alheia virou epidemia. O humor, muitas vezes, é a única boia que nos impede de afundar. Seremos adultos de verdade quando aprendermos a respeitar o riso tanto quanto respeitamos as lágrimas. Pobres dos que ainda confundem mau-humor com seriedade.