
Seria absolutamente legítimo que o Santander se negasse a realizar a exposição sobre diversidade que acabou de fechar. Afinal, é uma instituição privada, tem gente especializada para pensar em arte e no impacto que essa ou aquela mostra terá na imagem da marca.
Seja por que motivo for, o Santander poderia simplesmente ter analisado a proposta e respondido, educadamente, que ela não se enquadra nos critérios de curadoria do seu setor cultural.
O que choca nessa história não são as reclamações contra as obras expostas. Ou toda a polêmica envolvendo símbolos religiosos. Quem se sente ofendido tem todo o direito de reclamar. A arte também é para isso. Para gerar reflexão e debate. O que me choca nessa história é posição do Santander. Ceder a esse tipo de pressão é sintoma de que algo muito estranho está acontecendo no mundo.
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Se o MBL e seus pares recorressem à Justiça e conseguissem dela alguma medida no sentido de suspender a exposição de símbolos supostamente ofensivos, seria igualmente contestável, mas legítimo.
O Santander, ao fechar uma exposição de arte porque ela gerou desconforto, deu um mau exemplo. É uma posição covarde de uma instituição que respeito e continuarei a respeitar. O Santander é bem mais do que isso, tenho certeza.
Na mesma linha, é democrático e legítimo que o MBL e seja lá que for não considerem a exposição do Santander uma exposição de arte. O que não é democrático é impedir que outros considerem.
Vejo no horizonte sinais de perigo. Vejo e ouço. Quem grita mais, ganha. Pouco importa onde esteja a razão.