Wianey Carlet
Neste dilúvio de dor parido pelo acidente que roubou tantas vidas, destacou-se uma pequena ilha de fé que resultou no melhor antídoto para o sofrimento que contagiou o mundo inteiro. Poucos minutos após saber da morte do seu filho Anderson, o professor Paulo Paixão brindou a humanidade com palavras únicas: "Eu nada tenho a reclamar. Foi Deus quem quis assim".
Por mais tempo que eu viva, não esquecerei a lição de fé daquele pai sufocado pela amarga dor da sua perda. A fé que, confesso, me falta. Para mim, que não perdi um único familiar, só me ocorre cobrar do Senhor Supremo: por que tanto sofrimento? Que sentido faz levar as vidas de tantos jovens, colegas e homens que se dedicaram a erguer este clube, transformando-o no orgulho de Chapecó e da própria nação? Como podes explicar, Deus, o peso da tua mão caída sobre tantas pessoas, a maioria ainda buscando os seus caminhos? Por quê? Por quê?
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Minha inconformidade não tem limite. E, no entanto, me colocas diante de um pai prestes a enterrar o seu filho, passando esta lição incomparável de fé: "Eu nada tenho a reclamar. Foi Deus quem quis". Obrigado, professor Paulo Paixão. Envergonha-me a minha falta de fé. Se foi Deus quem assim quis, quem sou eu na minha insignificância para me insurgir? Recolho-me à dor que é do mundo inteiro. E me conforto na fé de Paulo Paixão.