
Tentam confundir a opinião pública os defensores do governo quando dizem que a democracia está ameaçada pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ora, até pode não haver razão concreta para a interrupção do mandato presidencial - e isso é o que o Congresso Nacional está decidindo, de acordo com a legislação vigente, com a vigilância atenta do Supremo Tribunal Federal. Se os parlamentares entenderem que não houve crime de responsabilidade, a presidente cumprirá o restante do seu mandato. Se entenderem que houve, com a maioria constitucional das duas casas legislativa, ela será substituída pelo vice-presidente. Assim determina a Constituição do nosso país, assim funciona a democracia.
Ninguém ignora que existe uma disputa política pelo poder e que nem todos os atores deste embate jogam limpo. A presidente tem todo o direito de reagir ao se sentir pressionada e pode até ter as suas razões quando acusa ex-aliados de traidores e conspiradores. Mas exagera quando se considera vítima de uma movimento golpista. As instituições brasileiras estão operando com solidez e independência, não existe um poder discricionário ameaçando ou constrangendo os demais. Há, sim, deformações condenáveis, como o apego demasiado ao poder e a prática sistemática da corrupção, mas também estas anomalias estão sendo combatidas pelos próprios instrumentos da democracia - o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. Independentemente do resultado do processo de impeachment, que está sendo conduzido de acordo com os preceitos constitucionais, os verdadeiros democratas deste país saberão rejeitar os autoritários, os sabotadores da democracia e os traidores da vontade popular.