
Cada vez mais ameaçada de ter seu mandato interrompido por um Congresso formado majoritariamente por adversários políticos e liderado por parlamentares suspeitos de envolvimento na corrupção, a presidente Dilma Rousseff resolveu aproveitar a tribuna da ONU para denunciar o que chama de golpe contra seu governo. Para tanto, retomou o projeto de viajar a Nova York nesta quinta-feira para participar da assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, com o propósito de reverberar internacionalmente o discurso da perseguição política, que encontra acolhida na imprensa estrangeira e provoca constrangimento entre os opositores mais moderados.
O Brasil está difícil de entender até para os brasileiros. Poucos, entre os milhões de cidadãos que foram às ruas pedir a saída da presidente, sabem exatamente o que é pedalada fiscal - o motivo alegado pelos proponentes do impeachment para enquadrar a presidente em crime de responsabilidade. Mas essas pessoas pouco versadas em finanças públicas sabem perfeitamente que a economia está em crise, que estão perdendo seus empregos, que a inflação lhes corrói a renda e que a Petrobras foi devastada pela roubalheira. Se o discurso-queixa da presidente não tocar também nesses aspectos, perderá parte de sua legitimidade.
Mas ela tem todo o direito de fazê-lo. Tem direito de se defender como melhor lhe aprouver e de receber todas as oportunidades para se expressar diante dos estrangeiros como vem se expressando no Brasil. Esta é a beleza da democracia: as instituições funcionam, o Legislativo escolhido livremente pelos cidadãos fiscaliza o Executivo e um Judiciário independente vigia os demais poderes para que cumpram a Constituição. E quem, mesmo assim, se sentir desconfortável pode manifestar ao mundo sua inconformidade.