Depois de alguns fatos recentes, acredito que precisamos falar sobre machismo e a nossa (in)capacidade de reconhecê-lo. Quando, em Porto Alegre, uma menina foi retirada da sala de aula por usar um short em um dia de calor, me disseram que era por inúmeras razões. Ainda que não tenha notícias de um menino ter sido retirado da sala de aula por aumentar a libido das meninas em razão de suas vestes, vamos lá, até era possível acreditar e dar o benefício da dúvida aos envolvidos. Achei que era machismo, mas, quiçá, tenha exagerado.
Quando, no Brasil, o slogan era "Tchau, Querida!", eu quase acreditei que era apenas uma manifestação política sobre o processo de impedimento e que não é objeto deste texto. Mas, aí, sucedeu que o singular foi substituído pelo plural e o Ministério formado apenas por homens passou a gritar para mim: "Tchau, Queridas!". E eu cá com os meus botões questionava: alguém mais ficou desconfiado? Depois disso, ainda, li na imprensa nacional uma série de reportagens enaltecendo as esposas dos novos ministros, evidentemente com foco apenas em suas qualidades físicas. Nada contra essas mulheres, fique claro. Mas tudo contra reportagens que fazem questão de reduzir a mulher ao papel de "bela, recatada e do lar". E o meu desconforto aumentou.
Então, recentemente, veio a horripilante notícia de um estupro coletivo no estado do Rio de Janeiro. E qualquer ilusão acabou. A imagem de uma mulher sendo estuprada por 33 covardes – e que fizeram questão de tornar isso público nas redes sociais – é chocante pelo horror que enuncia e por demonstrar que ainda existe quem entenda legítimo "punir" mulheres que não estão no papel de "recatadas e do lar".
Em todos os casos, houve quem negasse a misoginia. Houve quem culpasse a vítima. Houve quem, ingenuamente, achasse que não era contra o gênero feminino. Se todos esses episódios não forem suficientes para destruir os estereótipos que nos impedem de reconhecer que o machismo existe, é forte e que nunca foi tão importante valorizarmos o feminismo e o feminino, realmente não sei o que poderá ser. Reconhecer que o problema existe é o primeiro passo para resolvê-lo. E, em algum tempo, talvez, possamos descobrir se as imagens do absurdo são capazes de mudar alguma coisa.