Opinião

Artigo

Pafiadache e Mendes: polícia, para que polícia?

Nelson Pafiadache da Rocha e Paulo Roberto Mendes Rodrigues, ex-comandantes-gerais da Brigada Militar

Assim como todo cidadão, também os profissionais da segurança pública, por certo em alinhamento com todos os demais, prefeririam viver num país de polícia mínima, o que seria possível se diversos fatores que trazem a intranquilidade não influenciassem na vida das comunidades. Falamos do crime, uma chaga social que vem dos primórdios da humanidade e integra tratados e estudos sérios que tentam descortinar as razões dessa realidade, cada vez mais ascendente.

Gostaríamos de ver invertida a sentença de Pedro Aguirre, professor da Universidade de Santa Maria, que assinala que o crime sobe pelo elevador, e a polícia, pela escada, mas infelizmente isso se mostra mais gravoso, porquanto conta-se hoje com situações que incrementam a prática delitiva. Cita-se aqui que a idade dos infratores diminuiu, assim como a cooptação de jovens tornou-se realidade inconteste; que o aparato bélico já conta com armas de guerra, e que a logística do delito é farta. Muitos outros fatores poderiam ser adicionados, mas torna-se aqui despiciendo, pois a mídia é farta em expô-los.

Ora, seria muito simples editar um texto para um jornal e reproduzir o artigo 144 da Constituição, que reza que a segurança é um dever do Estado e responsabilidade de todos. Estar-se-ia mencionando o óbvio, pois num estado democrático de direito tudo que é público tem essa marca, porém se apresenta sem o devido sentido prático, que é o que vem sendo dito mais de forma unilateral e com indisfarçável carga ideológica, cujo escopo é tirar a responsabilidade das autoridades e do próprio cidadão. Anima-nos, no entanto, que ainda contamos com vozes que se levantam para diminuir a diferença dos pratos da balança.

Um alento para os gaúchos, pois a lucidez da justiça sulista é representada pela Juíza Betina Ronchetti no texto "Quem é a vítima"?, publicado na Zero Hora do dia 14.07.16, e pelo Dr. Emerson Mota, intitulado "Polícia refém", do dia 11.07.16. É um texto claro descortinado na dura realidade do dia-a-dia. Em outras palavras, é uma dica para que o Estado faça a polícia andar no elevador.

Assim, quando se questiona sobre a motivação diária dos policiais que se esforçam para nos oferecer segurança, dada a escassez de efetivo, meios e até assistência, sem falar, é claro, nos baixos salários, vem a resposta: capacidade de resiliência, crença no dever e na virtude, nos compromissos de mãos estendidas e na certeza de que as pessoas de bem lhes enaltecem e torcem para que sempre, ao final, o bem triunfe sobre o mal, para silenciar os perversos que constroem teses e escritos em desfavor da polícia, visando a satisfazer interesses pessoais, conduta tão ou mais perversa do que a do agente que transgride a lei.

Polícia não é assunto de trato singelo, menos ainda objeto de apropriação, pois é instituição secular que todos os dias precisa se refazer e que só se deixa esmorecer quando não conta com a boa vontade dos sensatos e daqueles que a estigmatizam como violenta, característica de quem, por isso, deve sempre proclamar: polícia, para que polícia?

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