* Professor titular na Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Como professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tenho recebido meu salário pontualmente. Salário pago com recursos dos impostos pagos pelos brasileiros. Como de costume, nesta sexta-feira (30/06), logo de manhã, me dirigi para meu posto de trabalho: um grupo de 50 alunos(as) comprometidos(as) com seu desenvolvimento. Embora houvesse um indicativo de greve geral, durante o trajeto até a UFRGS ouvia nas rádios que os ônibus estavam circulando normalmente. Observando o trânsito, tudo parecia normal e que eu teria mais um encontro produtivo com meus alunos(as).
Fui surpreendido quando me aproximei do portão de entrada para o Campus Central da UFRGS. Deparei com o portão fechado e acorrentado e guardado por uma pessoa, que do alto de sua autoridade de militante, me comunicou que eu estava impedido de entrar no meu espaço de trabalho. Observando, percebi que havia de fato um número muito reduzido de manifestantes, talvez 10 ou 12, devidamente trajados e com suas bandeiras partidárias, no interior do campus. O que de fato estava acontecendo é que um número insignificante de indivíduos estava, de forma autoritária, impedindo e cerceando o livre trânsito, a liberdade, o trabalho e o desenvolvimento de milhares de alunos, centenas de técnicos-administrativos e dezenas de professores comprometidos com suas responsabilidades.
Permaneci no local por mais alguns minutos e presenciei algumas iniciativas de negociação, mas os militantes foram irredutíveis no exercício da autoridade que eles mesmos se outorgaram. Aquele cenário me provocou uma reflexão. Se a universidade não tivesse muros nem portões, eu, os alunos e os técnicos-administrativos não teríamos sido impedidos de livremente realizar nossos compromissos e iniciativas. Por que universidade precisa de muros? Ela não é universal? Ela não é o espaço onde se pode livremente construir e expressar ideias, opiniões e conhecimentos? Não é na universidade que se valoriza a diversidade e o contraditório? Por que então um muro? Para protegê-la dessas livres e ricas interações com sua comunidade? Proteger seu patrimônio? Seu principal patrimônio é intelectual, não precisa de muros.
Um muro que foi construído para proteger apenas seu patrimônio físico hoje foi autoritariamente usado por um minoria para impedir a realização das missões mais fundamentais de nossa UFRGS. Parece que o que está sobrando para essa minoria autoritária são os muros e portões a serem acorrentados. Muito muros já caíram.