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Ao suspender os benefícios da polêmica delação premiada de executivos da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud, além de determinar sua prisão temporária, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), contribui para fazer com que o bom senso prevaleça no caso. O mínimo a ser evitado nesse momento é que equívocos da Procuradoria-Geral da República se prestem para fortalecer argumentos de políticos envolvidos por corrupção contra a Lava-Jato, que já se mobilizam inclusive para contestar a validade de provas. Com a decisão, abre-se espaço para a correção de erros e exageros, com o objetivo não de ampliar as chances para a prática de desvios nas relações entre o setor público e o privado, mas de reduzi-las.
É natural que uma delação tão contestada como a de executivos de corporação conhecida por financiar políticos de um amplo leque de partidos se mostre vulnerável diante de quem tem hoje como prioridade absoluta se autoproteger da Justiça. As chances se ampliam com os indícios de que teria havido dupla atuação por parte de um integrante do Ministério Público, considerado braço direito do procurador-geral Rodrigo Janot. A maioria dos mais de 1,8mil políticos envolvidos de alguma forma no caso têm interesse não em criticar problemas no processo, que de fato ocorreram, mas em desmoralizar o curso das investigações e as próprias instituições envolvidas na operação. É justamente isso o que a sociedade não pode aceitar em hipótese alguma.
O fato de a delação da JBS ter gerado benefícios em excesso para os autores da denúncia não pode servir de pretexto para a contestação desse instrumento de apuração sem o qual a Operação Lava-Jato não teria chegado ao estágio atual. Mesmo definindo o conteúdo do áudio posterior à gravação com próprio presidente da República como "conversa de bêbado", os protagonistas desse triste episódio forneceram detalhes tão reveladores que a reação das autoridades ligadas à apuração não poderia ter sido outra.
As instituições não podem permitir que alvos tão poderosos do combate à corrupção procurem se valer do poder político e financeiro para enfraquecê-las a partir de falhas e equívocos. Os erros apenas chamam a atenção para o quanto os instrumentos usados e as próprias investigações precisam ser aprimorados e cercados de cuidados mínimos. Esses alertas ganham ênfase especial no momento em que o país se encontra às vésperas de troca de comando na Procuradoria-Geral da República e diante de uma anunciada mudança na cúpula da Polícia Federal _ duas instituições fundamentais nesse processo.