*Advogado e professor da Escola de Direito da PUCRS e da FMP
Desde o início da atual crise política, pensou-se que uma reforma do sistema político seria suficiente. Ilusão. E os políticos, cientes disso, propõem essa reforma. Contudo, o "mensalão", as revelações da Operação Lava-jato, o depoimento de Antonio Palocci, os milhões (que não são só) de Geddel e os áudios de Joesley Batista evidenciam não apenas a falência do sistema político, mas a própria ruína do Estado brasileiro e de sua democracia republicana.
E em um país tão dividido, um consenso: a corrosão da estrutura estatal, absorvida que foi pela cultura patrimonialista. As instituições fracassam na tentativa de responder às exigências da população. As redes tramadas pelos poderosos as desacreditam. E as autoridades máximas do país, quando não coniventes, são tragadas pela onda cava e escura da corrupção.
Grupos criminosos se travestem de partidos políticos para saquear o Estado. E não faltam corruptos travestidos de empresários para, numa relação simbiótica, alimentarem suas ganâncias. Mas para essa máquina corrupta que se tornou o Estado brasileiro funcionar é necessário expandir seus tentáculos sobre todos os Poderes _ acaso, não foi isso que o autogrampo de Joesley também revelou? E como toda essa lama e seus milhões não foram detectados pelos mecanismos de fiscalização inerentes a uma República? Como as campanhas eleitorais são irrigadas com farto dinheiro de origem escusa sem que seus principais agentes e beneficiários sejam flagrados? E quando o são, formalidades os inocentam. Que República é essa que não construiu instâncias de controle minimamente eficazes? O sistema político-jurídico se mostra repleto de brechas pelos quais transitam os mais diversos tipos de criminosos. E por essa via alimenta uma sociedade vergonhosamente desigual.
A esperança reside em uma (in)esperada reação da sociedade civil, que, cansada, assuma seu papel de autor da história. E perceba que apenas uma reforma política não basta.