Opinião

Artigo

Ricardo Hingel: a indústria automobilística no RS - parte 3

Juntando Ford e GM, o Estado passaria a ter o segundo ou terceiro maior polo automotivo da América Latina

Ricardo Hingel

*Economista

Nas colunas anteriores, resumi a vinda da General Motors para o Rio Grande do Sul, investimento de maior impacto na economia estadual em muitas décadas e que consolidou a vocação de uma proeminente cadeia produtiva ligada aos segmentos de transporte e de maquinário agrícola, com emblemáticas empresas gaúchas, como Marcopolo, Randon e Agrale.

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A GM, na ocasião, além do impacto na nossa matriz industrial, enquadrava-se naquilo que se aprendeu chamar de "empresas que são referência mundial"; significa que em qualquer lugar do globo basta informar a existência de empresas desse tipo no Estado que se cria uma diferenciação, pois essas podem escolher o lugar do mundo para se localizar e sempre buscam condições diferenciadas para operar.

A atração da Ford só se deu em função da conquista da GM. No início de 1997, após a conclusão da negociação com a General Motors, fomos procurados na Secretaria do Desenvolvimento por um diretor da Ford para negociar a vinda para o Estado de uma fábrica de motores, e o apoio solicitado eram condições semelhantes àquelas acertadas com a GM. Na ocasião, por se tratar de uma fábrica de motores, chegou-se a vacilar antes de se iniciarem as tratativas. Dentro do conceito de se ter "empresas referências mundiais", concluiu-se que se deveria seguir adiante.

Vale lembrar que a Ford havia recentemente deixado a Autolatina, joint venture que manteve com a Volkswagen entre 1987 e 1996, divórcio do qual saíra sem produtos, com plantas industriais defasadas e com reduzido market-share, situação incompatível para um momento em que suas três principais concorrentes investiam e novos players chegavam.

Posteriormente, a Ford nos informou que decidira mudar seu projeto e não fabricaria mais motores, mas sim automóveis. Porém, o volume do investimento necessitaria ser maior e a produção prevista para o empreendimento superaria o da GM, elevando o valor a ser investido. Juntando Ford e GM, o Estado passaria a ter o segundo ou terceiro maior polo automotivo da América Latina. Os novos produtos seriam a fabricação do Fiesta e da Ecosport, que repaginariam a empresa no Brasil.

Importante ressaltar que já quando das negociações com Renault e GM, estava em vigor a chamada Medida Automotiva do Nordeste, que concedia aos Estados daquela região um imbatível conjunto de incentivos da União, como isenções de impostos de renda e de importação, além de ricos fundos federais que invariavelmente dificultavam a atração daqueles empreendimentos para a Região Sul, desequilibrando o pacto federativo.

Nesse ambiente competitivo com os demais Estados, mais os incentivos federais para a Região Nordeste é que se desenrolou a negociação com a Ford, na qual tivemos êxito.

Voltarei ao assunto nas próximas colunas.

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