O que parecia mais um inofensivo buraco na Rua Doutor Freire Alemão, provavelmente provocado pelo rompimento de alguma tubulação sob o asfalto, atualmente ocupa quase um terço da pista. A via, que possui diversos remendos no asfalto, tem o fluxo de veículos afetado a cada três ou quatro meses, segundo moradores, devido a defeitos como o registrado pela reportagem do ZH Bela Vista. O comprometimento do asfalto acomete, principalmente, o trecho entre as ruas Tenente Coronel Fabrício Pillar e Eudoro Berlink.
Ali, a cratera em meio à intensa circulação de veículos só não provoca acidentes devido à baixa velocidade desenvolvida por condutores no trecho e aos cavaletes postados sobre o desnível. Em meia hora no local, a reportagem presenciou a dificuldade dos motoristas e o impacto do problema na vida dos moradores. Morador do prédio em frente a cratera, o médico Ademar Schimitz abordou a reportagem para dizer que, após ter ficado quase um mês fora da cidade, a situação parecia ter piorado.
Para Raquel Capparelli, que também mora na região, a sensação é de que os buracos na rua somente mudam de lugar. Apontando os diversos remendos na pista, a moradora lamenta que o cruzamento das ruas Freire Alemão com a Tenente Coronel Fabrício Pilar esteja afundando novamente.
- Faz uma semana que o pessoal do DEP esteve aqui. O buraco está aí faz cerca de um mês, e ninguém fez nada - lamentou Olimpio de Jesus, zelador de um prédio localizado em frente ao buraco.
Após definição entre o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) sobre de quem seria a responsabilidade pelo conserto, ficou estabelecido que uma empresa terceirizada pelo DEP começará a obra de conserto até 15 de maio. Segundo a assessoria do departamento, houve o rompimento de uma tubulação de esgoto pluvial no local e, além da reconstrução da rede e do asfalto, ficou definido que será melhor avaliada a causa do problema, a fim de evitar que o cenário se repita. Embora os moradores relatem que o buraco está ali há cerca de um mês, sinalizado com cavaletes do DEP e do Dmae, a assessoria do DEP informou que o departamento tomou conhecimento da questão somente na quarta-feira, 30 de abril.
Arroio antigo foi canalizado na região
A construção do Conduto Forçado Álvaro-Chaves, que ruiu em fevereiro do ano passado na Rua Coronel Bordini, apresentou, em 2008, a existência de um córrego na região. Segundo a arqueóloga Ângela Cappeletti, que acompanhou o processo de construção do conduto, havia um córrego, chamado de Arroio Tamandaré, que passava por ruas da região e entre elas, a Doutor Freire Alemão. A pesquisadora afirma que foram encontrados vestígios no trecho entre as ruas Felipe Neri e Eudoro Berlink, e que a quadra em questão não chegou a ser estudada.
Segundo Ângela, Porto Alegre tinha muitos córregos e vertentes que foram canalizados ou extintos. Uma hipótese que a pesquisadora levanta é a possibilidade de haver uma nascente, também conhecida por "olho d'água", no local onde se formam as crateras. O DEP afirma que desconhece a existência de qualquer nascente no local. Atualmente, o Canal Tamandaré desce a Rua Carlos Trein Filho e segue pela Eudoro Berlink e, depois das obras do Conduto, desce a Silva Jardim.
A possibilidade dos buracos terem alguma relação com a obra do Conduto Álvaro-Chaves foi descartada pelo DEP. Segundo informações repassadas pela assessoria de imprensa, o trecho da Rua Freire Alemão onde há o buraco é de uma rede antiga, anterior ao conduto.
Ainda, conforme o DEP, a Rua Freire Alemão faz parte da bacia hidrográfica do Canal Tamandaré, mas não há resquícios de redes ali. Toda a drenagem da região, que é um local de ocupação antiga e com alto grau de urbanização, foi canalizada.
Texto enviado por Mario Capparelli, engenheiro de segurança
Morador credita danos à ação da água
Sou morador da Freire Alemão desde 1987, e gostaria de complementar o assunto relatado à página 6 do ZH Bela Vista de 02/05/2014: um sem número de vezes esse tipo de ocorrência, não só desse buraco mas de vários outros, principalmente na quadra entre a Fabrício Pilar e a Anita Garibaldi, tem causado prejuízos aos contribuintes. Sob a via de circulação corria antigamente um riacho, hoje canalizado. De tempos em tempos, o local sofre um processo de desassoreamento, que causa a ruptura da tubulação - seja ela de rede cloacal ou rede pluvial -, com o consequente afundamento da via. E os buracos não são pequenos ou pouco fundos. Ao contrário. Providenciados os reparos - em grande maioria das vezes sem a devida agilidade - segue a vida, esperando-se por nova ocorrência.
É de se perguntar: a prefeitura não se dá conta de que tais remendos dão mais prejuízo aos cofres públicos? Por que não corrigir técnica e corretamente o problema, efetuando nova e reforçada tubulação? Ou as devidas providências só serão adotadas no dia em que um veículo provocar o repentino afundamento do calçamento, com possíveis danos materiais e, pior, pessoais.
Lembrando que está previsto para o segundo semestre de 2014 o asfaltamento deste trecho (melhor seria corrigir do que remendar futuramente), complemento: o presente fato relatado no ZH Bela Vista de hoje (02/05/2014) já está há mais de um mês aguardando os devidos reparos.