
Com elenco de cinco, a intervenção urbana vai de passo curto pelo centro de Porto Alegre, atrás os fotógrafos e repórteres como um rabo de cometa, e nessa pequena romaria o espetáculo Manchas Urbanas completa a volta, do Mercado Público à Santa Casa à Andradas e de novo o Mercado.
É um punhado de paradas para que se façam as coreografias individuais do grupo dirigido por Eduardo Severino, mas, no vaivém de procurá-los, só alcanço a performance de Luciana Paludo, na Avenida dos Andradas, calçadão entre a livraria Saraiva e o Edifício Galeria Brasiliana.
Um guri de boné, casquinha de sorvete à mão, cutuca o colega com o cotovelo e convida:
- Vão filmar alguma coisa ali.
Fernando Gomes / Agência RBS

Luciana abre os braços e percorre um círculo como uma ave marcando território. No centro desse terreno, envelopam-na, dos seios à cintura, em uma toalha amarela. Uma caixinha de som começa a batucar uma percussão oriental.
Ao mesmo tempo tremulantes e exatos, os gestos da artista como que simulam o manejo difícil de um objeto invisível que ora cresce, ora se apequena. No pique da rotina, houve porto-alegrense que achasse intolerável:
- Os caras tomaram ácido! - alguém resmunga e, ligeiro, some.
Fernando Gomes / Agência RBS

A intervenção martela o canto, inabalada: "Pele-comprime / cidade-comprime / pele-cidade / felicidade". No fim, o povo que ali se apertou até sai de cara boa:
- Tudo o que a gente vê de novidade é interessante. Aqui tem muito show. Esses dias eu saí daqui de baixo e, até lá em cima, foram cinco shows. Bolivianos, uruguaios, argentinos, um brasileiro... Às vezes o cara está pensando uma coisa, para um pouquinho e se distrai, é bacana - diz o pintor Marcos Malta, 48 anos.
- Não moro aqui. Sou de Cacequi, mas venho seguido. Parei na rua porque achei bonito o ensaio - conversa a aposentada Evani da Fontoura Garcia.
Fernando Gomes / Agência RBS

O grupo segue até quase a Praça da Alfândega e, ao dar com um comício do Psol, quebra para a direita, na General Câmara. Antes de abandonarem seus papéis, os artistas ainda passam uns segundos contemplando o Paço Municipal.
- É um pouco abstrato. Em relação ao que rola comumente aqui no centro, tem pouco significado, dificulta a interpretação, causa um estranhamento - avalia Luciana Paludo, no encerrar do ato.
O bailarino Eduardo Severino relata um pouco do que ouviu do público:
- Hoje escutei coisas bárbaras. Uma senhora que estava entregando panfletos disse: "Isso é fisioterapia? Muito lindo!"
O Manchas Urbanas concorre ao prêmio Braskem Em Cena e integra o volume 5 da coleção Gaúchos Em Cena. Na quinta-feira, o grupo parte às 17h30min da esquina da Paulo Gama com a Osvaldo Aranha.
* Zero Hora