
São 5h de segunda-feira, e uma parte da cidade ferve. Em um entra e sai de caminhões e utilitários, produtores e donos de mercadinhos se encontram na Ceasa para fazer negócios. Até as 7h, passarão por lá 18 mil pessoas. Não há espaço para bocejo: armados de planilhas, os quitandeiros fecham rapidamente as encomendas, e um carregador leva imediatamente a carga para o caminhão.
- Tem que ser rápido. Ainda tenho de levar isso tudo até Canoas para abrir a fruteira - conta o comerciante Antônio Ismar Rita.
Em 40 minutos, ele negocia com 30 produtores, de quem encomenda de três a 4 mil quilos de frutas, legumes e verduras. São três ou quatro idas à Ceasa semanalmente. A rotina o ensinou a não prolongar festejos em família ou com amigos no domingo à noite: às 21h já está debaixo dos lençóis para debandar às 4h de segunda.
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Contando um maço de reais em frente à banca ao lado, Lorenço dos Santos, dono de uma fruteira na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, diz preferir trabalhar nas primeiras horas de segunda do que na tarde de domingo, como funcionava a Ceasa antigamente.
- Antes madrugar do que ter de sair do churrasco da família. Assim eu recebo os clientes com frutas bem frescas - compara.
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Ao contrário de centrais de abastecimentos na maior parte das capitais, a porto-alegrense só madruga às segundas-feiras. No outros dias, funciona à tarde. Foi um pedido dos feirantes, que dizem se sentir mais seguros dessa forma, pois não precisam passar a noite na boleia do caminhão aguardando o início dos negócios. A opção por abrir na madrugada de segunda também é mercadológica, explica Claiton Colvelo, técnico da Ceasa:
- É um momento em que os supermercados e as fruteiras se reabastecem após as vendas no final de semana.
O dinheiro flui com facilidade naqueles galpões do bairro Navegantes. Tudo é pago à vista, exceto por representantes dos grandes supermercados, que fiam para 60 dias. O ecossistema conta com 60 seguranças, seis barraquinhas de pastel e café, uma dezena de vendedores de bugigangas e até uma cutelaria.
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Entre os produtores, há quem faça o que muitos considerariam impensável. Há nove anos, Gilson e Rosinei Ines Lorenz dormem apenas duas horas de domingo para segunda, o intervalo da última colheita na propriedade de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, e a partida para Porto Alegre, distante 140 quilômetros. Na caçamba do caminhãozinho, 100 caixas de aipim, 150 de milho e 50 sacos de moranga.
- Ficamos em Porto Alegre até umas 8h, depois voltamos pra Cruzeiro do Sul para colher mais milho - relata Rosinei, que só irá pegar no sono de novo às 20h de segunda.
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