
Iniciada em fevereiro do ano passado, a obra da trincheira da Avenida Ceará, que vem atormentando motoristas que entram pela BR-116 em Porto Alegre, vai demorar, no mínimo, até julho de 2016.
A prefeitura terá de elaborar uma nova licitação para a obra, parada há quatro meses devido à instabilidade do solo. Detectado após o começo das escavações, o problema exigiu um novo projeto de engenharia, que custaria mais e acabou recusado pelo consórcio Farrapos, das empresas Conpasul; Sogel; e Toniolo, Busnello, que havia ganho a licitação para fazer a obra, prevista inicialmente para a Copa do Mundo.
- Tivemos um problema relacionado aos valores, que a empresa não aceitou - disse o secretário de Gestão, Urbano Schmitt.
Segundo levantamento realizado pela prefeitura, o custo de obra vai subir cerca de R$ 5 milhões. Com 20% dos trabalhos concluídos, o novo edital será lançado com valor de R$ 30 milhões.
Em função do cancelamento do contrato, um novo edital para licitação deve ser lançado em novembro. A ideia é dar a ordem de início à obra em janeiro de 2015. A partir daí, serão mais 18 meses de trabalho. Ou seja, os desvios de trânsito permanecem, pelo menos, até julho de 2016.
- Em toda obra subterrânea pode acontecer isso. Houve sondagens, mas o que foi encontrado no solo foi diferente do que foi previsto - justificou Schmitt.
De acordo com o engenheiro Rogério Baú, coordenador técnico das obras de mobilidade urbana da Secretaria Municipal de Gestão de Porto Alegre, estudos preliminares realizados no local indicaram a incidência de um lençol freático alto na região, o que pode tornar o solo mais instável. Somente depois do início das escavações, no entanto, é que se constatou a possibilidade de adensamento do solo. Na prática, isso poderia comprometer fundações de edificações localizadas a um raio de 100 metros da trincheira, além da linha da trensurb que corre ao longo do trecho.
- Estabelecemos uma solução estrutural que no momento da excução se mostrou instável. Era uma solução adotada em construções similares, mas precisamos de outra, que afastasse totalmente a possibilidade de adensamento do solo - explica Baú.
No novo projeto, as paredes que estruturam a trincheira serão mais espessas. Em vez de 12 metros de profundidade, chegarão a 25 metros, segundo o engenheiro. Para as novas escavações, será utilizada uma máquina de 22 metros de altura posicionada perto do Viaduto Leonel Brizola. Outro percalço: o equipamento só poderá ser usado durante a madrugada para não atrapalhar os pousos e decolagens no Aeroporto Salgado Filho.
O imprevisto não é o primeiro a paralisar obras de mobilidade na Capital. Na trincheira da Anita Garibaldi, também parte do pacote de intervenções da Copa para a Terceira Perimetral, uma rocha, também detectada após o início dos trabalhos, exigiu um aditivo no contrato para sua demolição, o que paralisou a obra.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS), Luiz Alcides Capoani, a reincidência de problemas não detectados previamente nas obras de mobilidade urbana de Porto Alegre podem ser fruto de mal planejamento.
- É lógico que (o problema se repetir) não é comum. Isso é um problema de gestão, não de engenharia. O profissional faz o que é pedido, mas a engenharia não é 100% segura. Temos que evoluir muito na questão do planejamento público de obras. Da forma como nós fazemos as obras no Brasil, são poucos os problemas - avaliou.
Já o titular da Gestão não vê problemas nos projetos, doados à prefeitura pelo Centro das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Ciergs):
- Recebemos os projetos de doação, não foram elaborados pela prefeitura. Na medida em que começamos executar, vimos que não eram totalmente aderentes. Mas foram bons projetos.
Clique nas fotos abaixo para saber os detalhes de cada obra da Copa: