Larissa Roso
Um homem não demonstra dor quando é espancado com ferocidade, mas se queixa quando uma mulher tenta limpar as feridas. A tosse costuma indicar uma doença fatal _ dor de cabeça também. A maior parte das pessoas guarda um álbum de recortes, especialmente se algum familiar ou amigo morreu num acidente de circunstâncias misteriosas. Qualquer fechadura pode ser aberta em segundos com um cartão de crédito ou um arame, exceto a porta de um prédio em chamas com uma criança lá dentro.
Recorrendo a cenas batidas do cinema norte-americano, a escritora Cíntia Moscovich divertiu o público que acompanhou a primeira aula da oficina Como Assassinar a Narrativa: Contra os Clichês, realizada ontem à tarde no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV). A autora de Por que Sou Gorda, Mamãe? e Essa Coisa Brilhante que É a Chuva também ilustrou a explanação com lugares-comuns da literatura, como a cena em que o protagonista acorda, vai ao banheiro e, diante do espelho, elabora profundos questionamentos existenciais.
- É a obviedade, a banalidade, a fórmula pronta. O que o personagem faz quando o autor não sabe o que fazer com ele? Olha pela janela. Se for uma história de amor, ele vai ver um casal de namorados. Mas pode ser pior. Nosso herói vai para a janela e não passa ninguém. E ele fica o quê? Meditativo. Ou ainda pior: fica "perdido em seus pensamentos" - exemplificou.
Cíntia faz concessões: em algumas ocasiões, alega ser necessário utilizar as expressões desgastadas.
- Clichê até o Philip Roth usa. Tem vezes em que vamos ter de dizer que choveu torrencialmente - resigna-se.
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Já li isso em algum lugar...
Pedimos para Cíntia Moscovich listar 10 clichês, daqueles que afugentam qualquer leitor. São cinco de linguagem e cinco situações-clichê. Confira: