
Agostinho e Leoni Casarin relacionam as mais caras referências da vida ao centro de Porto Alegre: firmaram namoro num bar da Salgado Filho, casaram-se na General Vitorino, somam mais de 45 anos vivendo em dois endereços da Andradas. Viram a Feira do Livro crescer, dos poucos estandes que comercializavam a Enciclopédia Barsa até que as dezenas de barracas cobrissem a Praça da Alfândega. Há mais de seis décadas na cidade, Leoni, 85 anos, compareceu à primeira edição do evento, em 1955.
- Não me lembro de nenhuma feira a que eu não tenha vindo - garante ela.
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Na última sexta-feira, o casal chegou à praça para um bate-papo sobre as duas trajetórias: a da história de amor de mais de 50 anos que gerou três filhos - todos advogados, como os pais - e a de um dos maiores e mais respeitados acontecimentos literários da América Latina.
Locomovendo-se em cadeira de rodas por conta de restrições da artrite, a aposentada fez questão de se postar de pé para a fotografia. A tarde calorenta não foi impedimento para o figurino: Leoni em mangas compridas com estampa de onça, Agostinho de paletó, ambos protegidos por chapéu. Comentaram os finos trajes de antigamente, quando a Rua da Praia era uma "suntuosidade".
- As moças botavam os melhores vestidos para desfilar para os rapazes - lembra Leoni.
Folheando uma pasta com recortes amarelados de jornal, recordaram sessões de autógrafos, patronos preferidos, aquisições de livros jurídicos para a biblioteca profissional. A poesia de Armindo Trevisan, colega de Agostinho no seminário, a prosa de Erico Verissimo e os títulos de saúde assinados pelo médico Fernando Lucchese figuram entre as leituras preferidas.
- Eu li sete vezes a Bíblia - orgulha-se ele, aos 89 anos.
Retrocedem à Capital de outros tempos: tranquila, sem a barulheira do trânsito que incomoda o sono, "bem organizadinha, mais ou menos limpa". Insistem no convite para uma "nega malucazinha com uma pepsizinha" no amplo apartamento que ocupam no Edifício Santa Cruz, um dos mais tradicionais da cidade. Compartilham os planos para a festa das bodas de ouro, a ser realizada antes que 2014 se despeça. É desnecessário perguntar se pretendem voltar, na semana que vem ou no próximo ano.
- A praça sempre foi ponto de encontro dos namorados - diz Leoni.
* Zero Hora