
Já que os recursos são escassos no orçamento do combate à violência, o jeito é inovar. Nos últimos meses, a Brigada Militar (BM) e grupos de lojistas e comerciantes têm estreitado relações com uma ferramenta disponível em qualquer telefone celular, o WhatsApp.
Há cerca de dois meses policiais e representantes de associações vêm usando o aplicativo para comunicar ocorrências, descrever suspeitos e relatar problemas. A ideia é que, com a ferramenta, a difusão de uma ocorrência se torna instantânea, e a repressão, mais rápida e eficiente.
O tenente Cláudio Bayerle da 1ª Compania do 9ª BPM, que atua no centro de Porto Alegre, usa ativamente o serviço. Segundo o policial, a percepção de que um grupo pelo WhatsApp poderia ajudar na relação com a comunidade surgiu das várias reuniões com o segmento comercial, bancário e educacional. Como as pessoas, seguidamente, reclamavam que não havia policiamento em certas áreas, a solução encontrada dois meses atrás foi criar um grupo piloto batizado de BM Centro.
WhatsApp passa a avisar se mensagem foi lida pelo usuário
- A gente convidou as pessoas para se associarem. Se elas tivessem alguma informação, os policiais da região, que também estão no BM Centro, iam checar conferir o que estava acontecendo.
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Em pouco tempo, a ideia se multiplicou: atualmente Bayerle tem grupos 12 no celular - um apenas para o mercado público e outro para a área de educação, por exemplo.
Ivan König, o presidente da Associação de Comércio do Mercado Público Central, e o vice, João Alberto Cruz de Melo, contam que o sistema foi implantado há um mês na região. Pelo celular, parte dos comerciantes, alguns frequentadores do Mercado e membros da prefeitura trocam informações com a polícia sobre a segurança no Centro.
- Recentemente, na (Avenida) Julio de Castilhos, uma pessoa foi esfaqueada durante uma tentativa de assalto. Daí, pelo WhatsApp começaram a enviar a descrição do cara e a polícia conseguiu prender o suspeito - diz König
Como há uma equipe de segurança privada no Mercado, as informações mais partilhadas são da área externa, como a Praça Parobé, onde o fluxo de pessoas é constante por ser um grande ponto de ônibus.
No grupo predomina o respeito. Melo diz que, em média, são enviadas cerca de três mensagens por dia, sempre com informações relacionadas ao ambiente:
- Qualquer ação que seja estratégica e de planejamento é boa para melhorar a sensação de segurança. Agora a gente sabe com quem estamos falando.
A tendência está se espalhando para diversas regiões da Capital. Odir Otto Fetzer, presidente administrativo da Associação dos Minimercados de Porto Alegre (Ammpa) e dono de um minimercado, diz que sistema está começando a ser implantado entre os membros da Ammpa.
- Ainda são poucas pessoas, mas até o fim do ano vamos ter mais gente e convidar a Brigada para participar, até porque nós somos repetidas vezes vítimas de assaltos e agressões.
Estratégia pode ser usada em ônibus
Durante uma reunião do Transporte Seguro, um grupo formado por representantes de empresas de ônibus e Brigada para reduzir a violência no transporte público, Zero Hora presenciou nascimento de uma comunidade pelo aplicativo. A sugestão partiu da BM e os presentes, apesar da indecisão de quem seria o responsável pela mediação, prontamente aceitaram a ideia.
- Mais rapidez na difusão de informações dos meios de transporte serve de apoio no combate ao crime. É mais uma ferramenta para auxiliar o segmento do transporte - diz o assessor de comunicação da Conorte Fagno Costa, presente na reunião.
Costa dá um exemplo sobre como o mecanismo deve funcionar:
- Digamos que tu és um motorista ou um cobrador e passa por uma estação de ônibus onde está ocorrendo algum assalto. O funcionário encaminharia o local e uma descrição do indivíduo para empresa e, da empresa, a informação seria disseminada para o grupo.
O assessor lembra que muitos dos que cometem crimes nas paradas podem atuar dentro dos coletivos.
O major Paulo Franco frisa que o WhatsApp é um canal informal, de auxílio e voluntário e que não substitui os canais oficiais como o 190.
- É uma ferramenta muito boa, dinâmica. A tendência é que o uso aumente - diz Franco.
Ele lembra que há comunidades do Facebook voltadas para a segurança dos bairros. A diferença fundamental é que nessas comunidades a informação é pública e nos grupos dos celular, privada. Além disso, a velocidade com que as informações são difundidas é quase instantâneo e, portanto, mais eficiente.
