
Movimentação espontânea de moradores de bairros como a Cidade Baixa e o Centro Histórico há décadas, o Carnaval de Rua em Porto Alegre, que neste ano passou a ser organizado pela prefeitura municipal, ganhará novos contornos em 2015. Horários mais brandos, novos trajetos e pontos de dispersão dos blocos foram algumas das questões discutidas em reunião com representantes da prefeitura, Brigada Militar, Ministério Público, moradores da Cidade Baixa, imprensa e blocos na tarde desta terça-feira.
As águas rolaram no Paço Municipal, onde, a menos de uma semana do pontapé informal no Carnaval de Rua neste ano - com o Pré-Carnaval do Bloco Maria do Bairro, no sábado - foram encaminhadas as primeiras definições sobre o evento. O encontro durou mais de quatro horas e meia e foi marcado por discussões acaloradas.
Excluídos das duas primeiras reuniões organizadas pela prefeitura, representantes dos blocos se revoltaram diante das propostas expostas pelo vice-prefeito Sebastião Melo, pela Brigada Militar e pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que sugeriram um itinerário único para todos os grupos da Cidade Baixa, com concentração na Praça Garibaldi e dispersão fora do bairro, na Praça Isabel, a Católica. Sem efetivo suficiente para acompanhar todos os eventos, a BM propunha, ainda, uma modificação sensível no calendário elaborado meses atrás pelos blocos e o secretário da Juventude Luizinho Martins, que deixa o cargo no fim de janeiro.
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Após diversas manifestações de líderes dos mais de 20 blocos participantes, que questionaram a falta planejamento e insistiram na preservação dos locais de origem dos blocos, foi retomado o calendário discutido com o secretário, que acabou por sofrer poucas alterações (veja o calendário completo ao final da matéria).
A largada será dada pelo Bloco Maria do Bairro, que realizará um pré-Carnaval no Areal da Baronesa, no sábado, e o encerramento será no dia 8 de março, com blocos na Cidade Baixa, Centro Histórico e Orla do Guaíba. O documento passará pela aprovação do vice-prefeito e terá de ser assinado por representantes dos blocos e das associações de moradores.
Por sugestão da promotora do Meio Ambiente, Annelise Monteiro Steigleder, a brincadeira terá de acabar mais cedo do que em anos anteriores: 21h foi o horário acordado para que os grupos calem seus tambores. Em 2014, as apresentações se encerravam às 22h.
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A Brigada Militar acompanhará todos os blocos, porém com efetivo reduzido em dias em que coincidirem com outros eventos, como o Carnaval no Porto Seco e as movimentações relacionadas ao feriado de Nossa Senhora dos Navegantes. Em dias "tranquilos", o efetivo disponibilizado será de um pelotão, com atuação de 20 a 30 homens. Nos outros, o número cairá pela metade.
Blocos terão dispersão fora da Cidade Baixa para evitar "aglomerações"
Uma das principais mudanças da folia de rua em 2015 será de caráter geográfico. Parte dos blocos que vinham se concentrando na Cidade Baixa migrará para a Orla do Guíba. Dentre os blocos que, historicamente, desfilavam pelo bairro boêmio, a maioria conseguiu preservar o local da concentração.
Já a dispersão ganhou outro destino: a Praça Isabel, a Católica, entre as avenidas Praia de Belas e Borges de Medeiros. Segundo o vice-prefeito, a mudança tem o objetivo de evitar as "aglomerações" na Cidade Baixa e possíveis conflitos com os moradores. Em 2014, os blocos carnavalescos movimentaram mais de 250 mil pessoas.
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A retirada da verba do poder público para o evento, sinalizada por Melo em entrevista a ZH na segunda-feira, foi revista durante a reunião. Disposta a contribuir com serviços, a prefeitura disse que não daria dinheiro aos blocos, que teriam de buscar patrocinadores. Após o posicionamento de vários integrantes dos grupos, alguns com mais de 30 anos de história, o discurso mudou:
- Estou disposto a discutir o mínimo de recurso público para os blocos, se for necessário - disse o vice-prefeito, que deu até esta quarta-feira para que os blocos encaminhem suas necessidades à prefeitura.
Já questões de infraestrutura, como a instalação de banheiros químicos, estão sendo negociadas com patrocinadores. O ideal, segundo o secretario Luizinho Martins, é conseguir 800 banheiros químicos. Em 2014, foram 250.
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No ano passado, quando o evento foi organizado pelo Cidade Baixa em Alta e contou com apoio da prefeitura, o poder público investiu, por meio da Secretaria Municipal da Juventude, R$ 200 mil no evento. Ainda assim, a verba era mais de 30 vezes inferior aos R$ 6,7 milhões disponibilizados para o desfile das escolas de samba no Porto Seco.
A discrepância entre investimentos e público dos eventos, proporcionalmente bem menor nos desfiles do sambódromo, também foi levantada por integrantes dos blocos. Conforme Sebastião Melo, a questão será discutida para se pensar em uma verba maior para 2016:
- Tenho certeza que a governança de hoje vai fazer a gente refletir (...) 2016 vai ser muito melhor - disse, antes de deixar o encontro.
Representantes de blocos e de associações de moradores divergem
O fato de a canoa não ter virado em 2015, no entanto, não tranquilizou representantes dos blocos em relação ao futuro. Uma das coordenadoras da Turucutá, Thais Gonzalez questiona o fato de associações que representam apenas uma parte dos moradores do bairro terem contribuído para a alteração da dispersão dos blocos.
- Ficamos felizes de terem tomado a iniciativa, mas não esperávamos toda essa discussão. Como 250 mil pessoas vão ter menos voz dos que as 500 que estão reclamando? - levantou.
Por outro lado, os reclamantes não dão sinais de cansaço. Representante do SOS Cidade Baixa, comunidade virtual criada por moradores do bairro, Marcelo Oliveira da Silva acredita que, mesmo com as mudanças, há pontos "sobrecarregados" no bairro:
- Achamos bom o fato de a prefeitura ter assumido a questão porque estava excessivo o planejamento. Eu ainda acho que está demasiado na Cidade Baixa, com alguns pontos sobrecarregados, onde precisa suavizar. Mas achamos bom ter essa conversa - avalia.
Veja o calendário não oficial do Carnaval de Rua 2015:
17/1, sábado - Pré-Carnaval do Bloco Maria do Bairro (Areal da Baronesa)
18/1, domingo - Bloco da Laje (Centro Histórico)
24/1, sábado - Panela do Samba (Cidade Baixa)
31/1, domingo - Maria do Bairro (fixo na Rua Sofia Veloso) e Do Jeito Que Tá Vai (Cidade Baixa)
2/2, segunda-feira - Império da Lã (Orla do Guaíba)
7/2, sábado - Galo de Porto (Cidade Baixa), Deixa Falar (fixo na Rua da República) e Satélite Prontidão (Zona Norte)
8/2, domingo - Areal do Futuro (local a definir)
14/2, sábado - Banda DK (Cidade Baixa)
17/2, terça-feira - Rua do Perdão (fixo na Rua da República)
21/2, sábado - Filhos do Cumpadre Washington (Orla do Guaíba), Cola Aí (Ilha da Pintada) e Deixa Falar (fixo na Rua da República)
22/2, domingo - Queridão e Bloco da Trinca (Orla do Guaíba)
28/2, sábado - Bloco do Isopor (Cidade Baixa) e Bloco da Diversidade (Ponte de Pedra)
1º/3, domingo - Skafolia (Orla do Guaíba) e Foliões da Vila (Orla do Guaíba)
7/3, sábado - Bloco da Santana (bairro Santana) e Ziriguidum (Cidade Baixa)
8/3, domingo - Turucutá (Cidade Baixa), Olha o Passarinho do Mário (Centro Histórico) e De Brincadeira (Orla do Guaíba)
*ZERO HORA