
Após a derrubada de vetos por colegas do partido em votações da Câmara de Vereadores de Porto Alegre na segunda-feira, o prefeito José Fortunati disse, nesta manhã, que irá se licenciar do Partido Democrático Trabalhista (PDT). O anúncio foi feito em entrevista no programa Jornal Gente, na Rádio Bandeirantes.
- Foi a gota d'água (sobre as votações de segunda-feira). Desde que assumi, tenho enfrentado sérios problemas com a bancada do PDT na Câmara: vereadores que se ausentam, que votam contra, que sistematicamente fazem oposição. Bom, se o meu partido não consegue dialogar com o Executivo, se preferem uma outra orientação, não tenho porque me manter ligado a esse partido - disse em entrevista à Rádio Gaúcha.
O licenciamento de Fortunati do PDT seria o primeiro passo para a sua saída do partido. Porém, ele afastou qualquer aproximação com outra legenda até 31 de dezembro de 2016 - quando encerra seu mandato no Executivo municipal - e afirmou que pretende manter a neutralidade partidária até o fim da sua gestão à frente da Capital.
- Não vou mais governar com os partidos, mas com os que estão preocupados com o futuro da cidade e não com as eleições - reiterou. - O que farei depois, só a Deus pertence.
"Já recebi vários convites, mas, a todos eles, agradeci", diz Fortunati
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O prefeito queixou-se da derrubada de vetos por vereadores aliados ao projeto de criação de 14 Áreas Especiais de Interesse Social (Aeis) na Capital, proposta de autoria da vereadora Fernanda Melchionna e do ex-vereador, hoje deputado estadual, Pedro Ruas, ambos do Psol. À tarde, o plenário também rejeitou o veto do Executivo e manteve projeto de lei que estabelece a obrigatoriedade do serviço de ar-condicionado nos ônibus. Fortunati disse que irá à Justiça derrubar a decisão da Câmara sobre o transporte coletivo e avaliou que as duas propostas são inconstitucionais.
Na apreciação ao veto dos projetos, dois dos cinco vereadores da bancada do PDT na Câmara votaram em oposição ao prefeito: delegado Cleiton e doutor Thiago. João Bosco Vaz votou favorável aos vetos de Fortunati, e Márcio Bins Ely e Nereu D'Ávila se ausentaram.
PDT tenta demover Fortunati da decisão
O presidente do PDT no Estado, Pompeo de Mattos, foi avisado da decisão de Fortunati na segunda-feira - e se mostrou incrédulo, segundo o prefeito. Pompeo anunciou uma reunião do partido na próxima sexta-feira na tentativa de demover Fortunati da saída do partido. O prefeito, porém, disse que a decisão é irrevogável e que não comparecerá ao encontro.
Quanto à sucessão à prefeitura de Porto Alegre, Fortunati apostou na neutralidade, não declarando apoio nem ao vice, Sebastião Melo (PMDB), que deve se candidatar ao Executivo em 2016. Mas o prefeito defendeu que, mesmo licenciado do PDT, não ficará isento do processo eleitoral.
A atual primeira-dama e deputada estadual Regina Becker pelo PDT irá se manter filiada ao partido, acrescentou Fortunati. Ele também defendeu uma profunda reforma política no país:
- Acho que, de uma vez por todas, é importante que todos se convençam de que, se quisermos dar uma volta por cima nesse processo, obrigatoriamente temos de fazer uma profunda reforma política no Brasil.
Durante a manhã, o prefeito divulgou em seu blog um texto explicativo sobre a sua decisão. Confira a íntegra:
"Minha vida política foi marcada por decisões fortes. Acertadas ou não, sempre olhei para trás com orgulho de tudo que fiz pelo Estado e pela cidade e não me arrependo delas. A noite de ontem consolidou mais um destes momentos. Estou oficialmente me licenciando do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Afasto-me das estruturas partidárias, mas não de seus valores, movimentos sociais e militantes. Trata-se de um ato revestido de grande simbolismo para mim. Estou tornando claro que as minhas ações sempre foram guiadas pelo bem da cidade, independente de interesses de qualquer partido, inclusive daquele ao qual até o momento estou filiado. Esta foi uma decisão que vem sendo amadurecida há algum tempo e que teve na tarde de ontem na Câmara Municipal seu desfecho final. Sou um defensor ferrenho da independência dos poderes, algo fundamental para a consolidação do Estado Democrático de Direito. Agora não posso admitir que exista em diversos parlamentares uma esquizofrenia política tamanha, na qual se é ao mesmo tempo governo e oposição, cruzando esta fronteira por mera conveniência pessoal.
Meu compromisso é claro: governar Porto Alegre pelos próximos 1 ano e nove meses ao lado da população e daqueles que realmente querem o melhor para a cidade, independente de bandeiras ou colorações partidárias. Vou continuar ouvindo a todos, críticos ou não, desde que estejam movidos de fato pelo interesse público".
* Zero Hora