
O Padrinho é o general / O Padrinho é o general
Aqui em Porto Alegre / Número 1 da Capital
Este é o trecho de um funk, cantado por uma criança, que será usado pela Polícia Civil como prova de que o grafite em homenagem a Xandi - que até quinta-feira estampava uma das paredes do condomínio Princesa Isabel, na região central de Porto Alegre - fazia apologia ao tráfico de drogas.
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A música, feita após a morte de Xandi, foi apresentada ao Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) pela própria associação de moradores do condomínio. O argumento usado pela presidente, Eurides da Costa, é de que as palavras "padrinho" e "general", também presentes no grafite, não têm relação com o tráfico.
Para Eurides, as expressões representam apenas o reconhecimento da comunidade pelos serviços prestados por Xandi - considerado pela polícia um dos maiores traficantes da Capital, ainda que não tenha nenhuma condenação judicial pelo crime.
Escute o funk em homenagem a Xandi:
Ao analisar o áudio que chegou em um pendrive, no entanto, a polícia encontrou elementos que provariam o contrário.
- Essa música é bastante significativa para o procedimento policial porque, unida à imagem, demonstra que o grafite era uma homenagem a um líder do tráfico, mas não a um vizinho, amigo, benfeitor. Transcrevemos o aúdio e o juntamos ao procedimento policial, que concluiremos na semana que vem - afirma o delegado Leonel Carivali, diretor de investigações do Denarc.
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De acordo com Carivali, a convicção que o Denarc tinha no início do inquérito acabou se concretizando ao longo da investigação: o grafite faz apologia ao tráfico. Questionado sobre as possíveis penalizações, o delegado foi breve.
- A representante responde por todos, em todas as situações que envolvem o condomínio. A gente não quer antecipar responsabilização penal de A, B ou C, mas uma das responsáveis com certeza é a síndica - resumiu.
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Eurides, em nome da associação, diz que a conclusão da polícia "não faz sentido".
- Acho que não é apologia a nada. Não adianta dizer que ele era traficante, porque ninguém nunca conseguu provar nada. Só tiramos o grafite porque a gente tinha que tirar, mas ele ficará sempre na nossa memória - disse.
A pintura para cobrir o grafite foi financiada pela empresa do arquiteto Marcelo Lima Paraíba, que disse ter se sensibilizado com a necessidade da comunidade, uma vez que o valor da pintura seria alto e o prazo estava acabando.
Veja imagens da pintura do grafite: