Alguns deles não falam português. Outros só se conheciam de vista, nunca haviam se falado. Todos vieram de longe para trabalhar nesta terra, buscando uma vida melhor do que nos seus países de origem. Muitos só mantêm contatos breves com os habitantes daqui, quando falam sobre os produtos que vendem na rua. Mas uma ação que reunirá brasileiros e imigrantes ou refugiados de países como Senegal, Haiti e Angola quer mudar essa história, promovendo integração entre pessoas de diversos lugares por meio do esporte.
O 1º Torneio de Integração Social de Porto Alegre, a ser realizado neste domingo, no campo do Ararigbóia, pretende reunir 12 equipes, com atletas amadores de diferentes países, para jogar futebol. Dessas equipes, cinco serão formadas por imigrantes – senegaleses, principalmente. Outras quatro, de brasileiros, também já estão garantidas. A iniciativa partiu do presidente de um clube de futebol amador porto-alegrense, o F.C. Supremo, José Adelar.
– Eu sempre passo em locais onde esse pessoal trabalha, e vejo no semblante deles um olhar distante, de alguém que está procurando um espaço. Um dia, conversei com um deles e surgiu a ideia.
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O projeto foi se tornando possível a partir do contato com o presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre, Mor Ndiaye. Ele reuniu os amigos de outros países, falou sobre a proposta e incentivou-os a participar e convidar mais imigrantes. Recebeu confirmação não só dos que estão na Capital, mas também daqueles em Canoas, Gravataí e Montenegro. Todos gostaram da ideia de promover a união por meio do esporte.
– O esporte é uma das coisas que mais consegue juntar seres humanos que não se conheciam. Qualquer imigrante ou refugiado se sentiria feliz de participar de um torneio assim.
Torneio ainda precisa de inscrições
José Adelar destaca que esse é apenas um primeiro passo: o objetivo é, depois, conseguir formar equipes fixas com os atletas amadores de outros países e depois integrá-los a ligas municipais de futebol e outros eventos esportivos.
Se a acolhida da iniciativa foi boa, as dificuldades começaram a surgir na hora de organizar o torneio. Não há uniforme, chuteiras e medalhas para todo mundo. Outras equipes amadoras têm ajudado com empréstimos e doações, mas o dinheiro arrecadado por meio das inscrições até agora ainda não foi suficiente para a aquisição dos troféus e de alimentação para os participantes no dia do evento.
Para que tudo dê certo, a organização aguarda a participação de mais três equipes, cerca de 40 pessoas ao todo. Com a arrecadação, esperam, será possível comprar o que falta, principalmente em materiais esportivos e premiações. Seriam bem-vindas, ainda, outras formas de contribuição, como a presença de um árbitro e até pessoas para ajudar a preparar as refeições. Os organizadores também receberão alimentos não perecíveis, que ao final serão doados a creches de Porto Alegre.
Imigrante destaca recepção brasileira
Quando chegou em Porto Alegre, distante mais de 6 mil quilômetros de sua terra natal, o senegalês Serigne Bamba Toure, que completa 25 anos neste sábado, não sabia muito o que esperar. Mas descobriu alguns conterrâneos, encontrou seu espaço, começou a trabalhar. Sentiu-se bem recebido desde o início. A acolhida maior, contudo, veio quando surgiu a oportunidade de jogar futebol.
Bamba, como por aqui todos o chamam, tem o gingado até no nome. Do alto de seus 2m05cm, diz não ter muita aptidão para sambar, mas mostra a desenvoltura representada pelo nome em campo: está entre os zagueiros mais requisitados da equipe Meninos da Vila, um time de futebol amador comandado pela técnica Larissa Moraes de Gonzaga.
– Tu trata de aparecer no dia do torneio, hein, Bamba? E vai jogar na minha equipe! – disse ela, ao ver o senegalês.
Bamba não garante que seu passe, no dia do torneio, será dela. Mas, sorridente, demonstra o quanto aprecia o pedido da treinadora – retrato do acolhimento que teve por parte dos brasileiros.
– Nós somos todos humanos, todos irmãos. Aqui, me receberam muito bem. Quando eu falto um dia, dois (a algum treino), alguém da equipe pega o celular e me liga. Pergunta: "Bamba, como tu está?". Não é só mais um time. É uma família mesmo.
1º Torneio de Integração Social de Porto Alegre
O quê: o evento reunirá imigrantes e refugiados de diferentes países para jogar futebol com brasileiros, com o objetivo de promover a integração entre os povos.
Quando: domingo (8/1), no Campo do Ararigbóia – Rua Saicã, 6, bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre.
Como será: com 12 equipes, cada partida terá dois tempos de 15 minutos. Cada time deverá ter 11 jogadores em campo, mais os reservas.
Inscrições: para o torneio ficar completo, ainda faltam as inscrições de três equipes – que podem ser formadas por brasileiros e/ou por imigrantes.
Como ajudar: os organizadores precisam de materiais esportivos (uniformes, bolas, chuteiras), produtos para premiação (medalhas e troféus) e alimentos.
Contato: José Adelar - (51) 98532-7491.