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Desde que o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, revelou a intenção, no final do mês passado, de abolir o uso de dinheiro para pagamento das passagens de ônibus na cidade, fazendo uso exclusivo da bilhetagem eletrônica, uma apreensão tem tomado conta dos trabalhadores que poderão ser afetados com a futura mudança. Os cobradores temem que o pagamento restrito ao uso da tecnologia, que traria mais segurança ao serviço na visão de Marchezan, poderá custar o próprio emprego da categoria.
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Entre os trabalhadores da função este é o assunto do momento, garante a cobradora da Carris há 10 anos, Letícia Magalhães, 36 anos. Ela considera difícil não se preocupar com o futuro do emprego uma vez que a ideia de modernizar o sistema veio do próprio prefeito:
– Eu tenho família para sustentar, a gente sabe que não teria onde realocar toda essa gente (em outras funções).Para ela, o argumento de que o uso exclusivo de bilhetagem traria mais segurança é frágil pois em dias de passe livre – em que também não circula dinheiro nos ônibus – também há assaltos.
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– As pessoas acham que a gente fica o dia todo sentado ficam sentado, mas não é. Ajudamos no embarque de deficientes, ajudamos a orientar os motoristas, as pessoas não se dão conta da nossa importância. Eles (os motoristas) não vão dar conta sozinhos de tantos passageiros – avalia Fernanda Hansen, 40 anos, há 14 como cobradora da Carris.
Há nove anos na função, Milena Louzada, 35 anos, frisa que o cobrador não apenas cobra a tarifa, mas também orienta o passageiro e cuida das portas:
– Acho que sem cobrador os ônibus ficarão ainda mais vulneráveis a assaltos, o motorista não tem muito o que fazer sozinho.
O motorista Gilmar José Bittencourt, 52 anos, concorda com a preocupação da colega:
– Nunca trabalhei sem cobrador e acho que ficaria mais difícil para todos, principalmente em algumas regiões da cidade.
Em sua conta no Twitter, Marchezan nega que haverá demissões de cobradores: "Ninguém falou que vai ter que demitir cobrador, o que foi falado é que essa é uma profissão que vai precisar se modernizar".No final do mês, o prefeito anunciou que a gestão da bilhetagem eletrônica na Capital ficará a cargo da prefeitura e não mais da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP).
Procurada pelo DG, a ATP informou que, por enquanto, não irá se manifestar sobre o assunto por ser um tema que foi levantado pela prefeitura. Segundo o secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Elizandro Sabino, a mudança passará por um processo de muito diálogo com a sociedade, sindicato da categoria, as empresas e, no que diz respeito ao aspecto legal, com a Câmara de Vereadores.
– É um conjunto de elementos que precisa ser analisado, é uma relação de muitas interfaces e um estudo técnico precisa ser feito.
"Vamos parar a cidade"
O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Adair da Silva, afirma que não irá aceitar a mudança que, segundo ele, afetaria 3,6 mil cobradores que atuam nas empresas da Capital. Desse total, 70% está próximo de se aposentar. Na opinião dele, é inviável realocar todos estes funcionários caso a função de cobrador não fosse mais necessária.
– Só a Carris tem mais de mil cobradores. Se eles (a prefeitura) colocar na Câmara qualquer tipo de projeto que envolva isso, vamos parar a cidade.
A possibilidade de demissão de cobradores já foi um dos itens que motivou, na quarta-feira passada, em meio à discussão do dissídio da categoria, uma operação tartaruga dos rodoviários feito em vias centrais da Capital.
Como é em outras capitais:
O Diário Gaúcho consultou cinco prefeituras para conferir a situação em outras capitais. Veja:
BELO HORIZONTE
Todos os ônibus tem cobradores, exceto nos horários da madrugada
CURITIBA
Todos os ônibus urbanos têm cobrados, exceto os veículos do BRT
FLORIANÓPOLIS
Toda frota tem cobrador
RIO DE JANEIRO
Há ônibus com e sem cobradores, dependendo da linha
SÃO PAULO
Todos os ônibus têm cobradores