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Há três décadas vendendo churros em Porto Alegre, Nelson Luiz Ribeiro, 67 anos, sumiu na semana passada dos dois pontos em que costuma ficar, nos bairros São João e Moinhos de Vento. O motivo foi o furto, em um estacionamento da Zona Norte, do carrinho em que preparava o doce. Mas causa da tristeza do "tio do churros" virou corrente de solidariedade: uma antiga cliente deu início a uma vaquinha que já arrecadou cerca de R$ 15 mil.
– Ele é muito simpático, me chama de Gigi até hoje, sendo que me formei há muitos anos. Lembro que, às vezes, meu pai se atrasava para me buscar (no colégio), e ele ficava me cuidando – conta a publicitária Gisele Rebelo, 30 anos, a criadora da vaquinha em um site.
O valor inicial almejado era R$ 500 para auxiliar o vendedor nos dias em que ele está impossibilitado de trabalhar. Gisele e outros colegas não tinham a dimensão de que iriam juntar um montante com cinco dígitos – e a vaquinha vai até o fim do mês. Todo o dinheiro deve ser repassado ao idoso, para que ele compre o carrinho e cubra os gastos do tempo fora da atividade.
– Fiquei muito endividado. Antes de levarem meu carrinho, as vendas já estavam difíceis. E, sabe como é venda, um dia dá, outro não. Com o furto do meu carrinho, estou desestabilizado, era o meu ganha pão – explica Ribeiro, que atua em frente ao colégio La Salle São João, de segunda a sexta-feira, e no Parcão aos finais de semana.
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O vendedor conta que os ladrões não levaram apenas o instrumento de trabalho, mas também um pedaço de sua história, já que o carrinho o acompanhava há mais de 20 anos. Mas comemora a iniciativa dos clientes:
– Me sinto muito feliz (com as pessoas que estão ajudando), tem muita gente boa. Já estou vendo umas peças aqui para o meu novo carrinho. É o único emprego que tive nos últimos 30 anos.
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A história de vida de Ribeiro faz com que ele acumule a simpatia de muita gente que convive ou conviveu com ele. Há cinco anos, o morador de Viamão usa muletas, após ser atropelado por um ônibus enquanto empurrava o carrinho pela Rua 24 de outubro. Três meses atrás, perdeu a mulher vítima de câncer.
– A gente sempre comprava churros dele na saída do colégio. Às vezes, nem tinha levado dinheiro, mas deixava pagar depois. Ele não cobrava, nunca ligou. Acho que o importante mesmo para ele era estar trabalhando – conta a professora Fernanda Ribeiro Wolker, 38 anos.