
Ainda que a prefeitura de Porto Alegre aprove na Câmara de Vereadores todos os projetos que retiram isenções da passagem de ônibus, a tarifa vai ficar mais cara em 2018, segundo projeções da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Cálculos do órgão indicam que, com a pressão da inflação prevista sobre custos e salários das empresas, a passagem deve subir dos atuais R$ 4,05 para, no mínimo, R$ 4,40 no ano que vem. Na semana passada, ao enviar os seis projetos e retirar, por decreto, a gratuidade da segunda passagem para 50 mil passageiros, a EPTC havia superestimado a economia nos custos em 50%.
– Essas medidas são para evitar o superencarecimento ou o encarecimento da passagem. Nós temos absoluta certeza de que estamos no caminho correto para tentar viabilizar um sistema real de transporte em Porto Alegre. Se nós não reorganizarmos o sistema, ele vai quebrar – disse o prefeito Nelson Marchezan.
Caso o sistema fique como está, diz a EPTC, a tarifa pode chegar a R$ 4,61 no próximo ano. O número leva em consideração três variáveis: a queda de passageiros, o aumento do preço do combustível e o dissídio dos rodoviários.
Leia mais
"O setor de transporte está falido", diz Marchezan sobre retirada de isenções da passagem
Isenções na passagem: o que já muda e o que ainda será votado pela Câmara
Oposição vai entrar na Justiça contra fim da gratuidade na segunda passagem
A redução da gratuidades – um dos fatores que mais têm influenciado no reajuste – é responsável pela maior fatia da correção. Essa tendência deve continuar, prevê a EPTC: em 2018, o transporte coletivo na Capital deve ter 11,5% menos pagantes do que em 2017. Com menos passageiros a cada viagem, o custo aumenta – só isso já elevaria o valor da passagem para R$ 4,50. O reajuste no preço do combustível e o dissídio dos rodoviários somariam R$ 0,11 – como é praxe arredondar o valor, a passagem ficaria em R$ 4,60.
Já o impacto das propostas amplamente divulgadas pelo Executivo na semana passada mostrou-se mais modesto do que a expectativa inicial. Caso todas as medidas comecem a valer em setembro, a economia será de R$ 0,19 até o fim de fevereiro, quando costumam ocorrer os reajustes. Essa contenção deixaria a tarifa em R$ 4,41.
– Se a gente não fizesse nada, seria pior. Agora estamos correndo contra o tempo para que essas medidas possam contar para o próximo reajuste – diz o diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti.
Para a prefeitura, medidas são essenciais
Segundo a prefeitura, mudar as regras é importante para baratear a passagem nos próximos anos. Com as propostas enviadas à Câmara (veja ao lado) e o fim da segunda viagem gratuita, a economia seria de R$ 0,39 – metade dos R$ 0,78 anuais divulgados pela EPTC ao apresentar as propostas. O órgão refez os cálculos depois de encaminhar o texto à Câmara Municipal e divulgar as medidas à imprensa. As primeiras contas desconsideravam fatores significativos.
Um deles: apenas 28% dos estudantes deixarão de ter direito a pagar meia passagem escolar, o que reduz a economia inicial de R$ 0,16 para R$ 0,05. Inicialmente, a EPTC considerou na conta que todos os 50 mil passageiros que hoje não pagam a segunda passagem passariam a desembolsar R$ 4,05 por viagem – na verdade, será a metade da tarifa. Tal erro reduziu o impacto de R$ 0,43 para R$ 0,22 anuais.
Apesar do equívoco, a prefeitura ainda avalia que as medidas são a melhor maneira de fazer a manutenção do sistema, considerado em crise – somente a Carris deve ter um prejuízo de R$ 60 milhões no próximo ano.
– Devem ser publicados nessa semana os decretos que dão prazos para obrigações que estavam nas licitações, mas não têm prazo, como o início do reconhecimento facial, da instalação do GPS e do sistema de filmagem. A gente acredita que, com isso, vai conseguir avançar – avaliou Marchezan.
Conforme o prefeito, os documentos a serem publicados preveem o começo da instalação das melhorias na frota ainda para este ano.

Estudantes e rodoviários organizam protesto
Entre os principais afetados pelas medidas, grupos de estudantes e rodoviários organizam protesto para 11 de agosto. O objetivo é tentar barrar as propostas enviadas à Câmara, consideradas "desnecessárias" pelos grupos, uma vez que não devem resultar na diminuição da tarifa.
– Esse pacote só vem para retirar direitos e aumentar o lucro das empresas. Trabalhadores, estudantes e aposentados não vão ter nenhum benefício, e o pior: vão sair pagando ainda mais caro no ano que vem – disse Marcos Prestes, presidente da União Gaúcha dos Estudantes (Uges).
O pacote do Executivo também provocou reações na Câmara Municipal, em recesso durante o anúncio das medidas. A oposição, que se mostrou contrária às medidas, elabora um documento para entrar na Justiça contra o fim da segunda passagem gratuita.
O líder do governo na Câmara, Clàudio Janta (SD), criticou a iniciativa da prefeitura, acusando-a de "beneficiar apenas as empresas", e disse que as propostas não foram discutidas com a base aliada. Mas, segundo Marchezan, houve reuniões com os vereadores para tratar do assunto, e a entrega das propostas durante o recesso da Câmara foi orientação do próprio líder do governo.