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Após uma minuta de decreto gerar polêmica na Capital com a regulamentação do trabalho dos artistas de rua, a reportagem foi até a Rua da Praia ouvir o que os mais interessados no tema pensam sobre o assunto. Entre os artistas ouvidos estão personagens famosos da via, como a estátua viva do Laçador e o Palhaço Paçoca.
Prefeitura recebe propostas de artistas de rua em audiência pública
Nesta quinta, nem todos os artistas presentes no local estavam cientes da discussão - mas quando consultada, a maioria concordou com a necessidade de estabelecer normas de convívio, mas sem que se perca a autonomia.
Entre os pontos do eventual regramento que mais geraram polêmica estão o pedido de autorização para permanência nos pontos de apresentação, o volume dos alto-falantes e a venda de CDs junto aos locais dos shows.
- O regulamento é legal, mas inibir os músicos é estranho. O nome da cidade diz o que os turistas costumam encontrar por aqui, uma Porto Alegre com manifestação de diversos gêneros. Se tirarem essa diversidade, vão tirar a graça da cidade - diz o músico Welci Araújo, que há 15 anos percorre as ruas tocando harpa e guitarra havaiana.
A venda de CDs e o volume do som, para ele, são pontos passíveis de regramento. As soluções, segundo o músico, seriam a fiscalização do limite de decibéis e o pagamento de alvará para comercializar música própria. Sobre o pedido de licença para instalação nos endereços de apresentação, Araújo discorda:
- Temos que trabalhar todos os dias. Se tiver que avisar a cada dia, isso vai atrapalhar muito.
Presente na discussão na noite de quarta, Anderson Demétrius Rodrigues da Silva, que faz o personagem Palhaço Paçoca, acha que a discussão foi importante e histórica, mas que faltam pequenos ajustes. Leonel dos Santos, estátua viva do Laçador, acha que o que falta é ter bom senso:
- O artista pedir autorização para trabalhar na rua é um absurdo. Quanto ao volume do som, o pessoal tem que colaborar: nem tão alto, nem tão baixo. É cada um ceder um pouco e deixar que a arte flua.
Além dos gaúchos, que estão organizados em associação e acompanham a discussão há mais tempo, os estrangeiros que fazem arte pelas ruas da cidade também seriam impactados pelo regramento.
O desenhista peruano Herman León, que fabrica o próprio giz com cal e pigmentos para desenhar em calçadas onde o piso está danificado, defende que não haja regramentos e que todos os artistas deveriam ser livres para exercer o seu trabalho.
A responsabilidade individual, afirma ele, é o que deveria tangenciar o uso compartilhado dos espaços públicos. Já para o equatoriano Luís Alberto Tuqerrez, que improvisou um motor de lancha para ligar sua caixa de som e amplificar o volume da flauta, o mais importante não é vender, e sim estar na rua para mostrar sua arte.
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