Além de servir a quem espera ou descansa, eles têm potencial para estimular o relacionamento entre as pessoas - são um ótimo palco para uma conversa gentil sobre o tempo, por exemplo. Mas andam em extinção nas calçadas da Capital.
Ou você se lembra de uma via em que há bancos públicos para moradores e turistas aproveitarem Porto Alegre? Quem não mora perto de uma praça, parque ou da orla do Guaíba parece fadado a tomar seu chimarrão de pé, carregar a cadeira de praia ou então comprar algo em um bar para assistir à movimentação da cidade.
Para convidar os moradores a ocupar as ruas e cobrar providências das autoridades, será realizado um "cadeiraço" neste domingo, a partir das 14h. No Facebook, mais de 3 mil pessoas já demonstraram interesse em participar do evento, que pede: "Traga sua cadeira, banquinho, banco, caixote, almofada, pneu, pufe, pallet, canga, esteira, rede, sofá ou qualquer outra coisa que sirva para sentar e aproveite a rua com a gente".
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O estudante Bruno Ricco Deos conta que a ideia do "cadeiraço" surgiu em um workshop do curso de Design da UFRGS no ano passado, como uma proposta de intervenção urbana, e foi abraçada pelo grupo Shoot the Shit.
- A gente notou este problema: Porto Alegre não tem um lugar que não seja privado para sentar. Se as pessoas estão na rua, gera mais segurança.
Designer da Shoot the Shit, Marcos Machado de Oliveira acredita que a Capital pode ser uma cidade mais "sentável".
- A ideia é que as pessoas tragam suas cadeiras e ocupem calçadas e vagas de carros, trazendo um comportamento muito padrão do interior, onde dá 5h, 6h da tarde, e as pessoas pegam seu chimarrão e vão para a rua, vão falar com o vizinho, olhar o movimento. Um banco é um convite para ficar mais tempo na rua, aproveitar a cidade.
O local escolhido para o evento é a Rua da República, na Cidade Baixa, bairro onde o instalador hidráulico José Antunes, 51 anos, trabalha há três décadas e nunca encontrou um banco.
- A gente sai do almoço e, para sentar um pouquinho, tem que procurar uma porta, ou algum lugar assim para descansar - lamenta ele, sentado sobre uma grade que protege um registro d'água.
A falta de bancos também é sentida por gente que vem de fora. Luis Melo Vasconselos, 22 anos, turista de Alagoas, resolveu conhecer a Gonçalo de Carvalho, que fica entre os bairros Independência e Floresta e leva a fama de ser a rua mais bonita do mundo. Como há apenas um banco em toda a extensão da via, disponibilizado por um cursinho pré-vestibular exclusivamente para seus alunos e funcionários, sua passagem pelo local foi rápida:
- É um lugar tão bonito, arborizado, mas tive que fazer um bate e volta de táxi - disse ele.
O holandês Hopi Chapman, cineasta que mora há 18 anos no Brasil, lembra que em países da Europa, e até mesmo em Montevidéu, no Uruguai, as ruas são mais ocupadas por pessoas - não apenas por veículos.
- Paris e Roma têm lugares para consumir o espaço público - diz ele.
Café da Cidade Baixa precisou remover banco disponibilizado para pedestres
Na Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa, o Café Cartum teve que retirar o banco que havia posto na calçada para os pedestres. O proprietário, Guilherme Moojen, foi notificado pela prefeitura no final de setembro, recebendo um mês de prazo para fazer a remoção.
- A ideia não era lucrar. Não tinha nem propaganda no banco nem era para os clientes. Eu só queria que tivesse um espaço para as pessoas sentarem, para dar vida à rua - destaca Moojen.
Até o fechamento da matéria, a prefeitura não respondeu aos questionamentos da reportagem.
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Bruno, Andreia e Marcos ajudaram a idealizar o "cadeiraço". Foto: Felipe Martini
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