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A arquiteta Carolina Bueno e o designer e arquiteto Maurício Arruda estiveram na noite de quarta-feira, 23 de julho, em Porto Alegre para participar da palestra Inspirações Para Novas Perspectivas, promovida pela Docol Metais Sanitários.
Reconhecida dentro e fora do País, Carolina é a única brasileira a integrar o escritório franco-brasileiro Triptyque Architecture, e Maurício é um dos grandes nomes do design nacional, a dupla conversou com Zero Hora sobre design, arquitetura, criatividade e sustentabilidade - premissa que norteia as criações de ambos. Confira:
SUSTENTABILIDADE
Para Carolina Bueno, não existe a possibilidade de não incorporar a sustentabilidade nos projetos do escritório. O tema sempre está relacionado a algum problema que precisa ser solucionado, como por exemplo calor excessivo ou consumo de água.
- Tentamos transformar os problemas relacionados à sustentabilidade em algo positivo. Dessa forma, a temática virou uma ferramenta superfértil para nós, tanto que utilizamos para os projetos mais complexos o que chamamos de "suco de neurônios". Isso quer dizer que pesquisamos por mais tempo, buscamos fornecedores especializados, experimentamos novos materiais, tudo em busca de soluções criativas e que impactem o mínimo possível no meio ambiente e transmitam bem-estar às pessoas dentro do espaço - diz a profissional.
Para Maurício Arruda, o assunto é muito frequente no Brasil, e a sustentabilidade virou um critério importante de escolha.
- Selecionamos o que vamos comer, o que vamos comprar, os materiais que vamos usar, já sabendo como foram produzidos. Essa questão, de certa forma, já está relacionada ao nosso estilo de vida. No escritório, por exemplo, não ficamos pensando se o produto é ou não sustentável, porque para nós é natural que seja. Pensamos nisso desde o início de cada trabalho.
O arquiteto faz uma avaliação sobre como era antigamente e como é agora a situação no país.
- Há dez anos você se frustrava por não conseguir fazer uma casa 100% sustentável. Hoje, você já sabe que qualquer ação que se faça pensando em diminuir os impactos no ambiente é um grande ganho.
CRIATIVIDADE
Maurício define criatividade como pensar de que maneira é possível gerar uma experiência inédita para as pessoas.
- Quando crio uma peça nova, fico muito focado na história que vou contar com aquele produto. É gostoso você ouvir uma história interessante e é chato você ouvir uma história sem pé nem cabeça. E demora para a gente saber que história a vamos contar. Acho que criatividade potencializa a capacidade de o design ser acessível a todos. Acho que o brasileiro tem habilidade de fazer design informal, justamente por ser criativo.
Já Carolina acredita que fugir do lugar-comum e surpreender o cliente é o segredo de um bom projeto.
- A receita do bolo é a mesma, mas os caminhos são completamente diferentes (para agradar a públicos opostos). Para criar soluções novas, projetos bacanas, personalizados, únicos, voltamos para o suco de neurônios. É preciso pensar mais, envolver-se mais, pesquisar mais. Essas são as alternativas para fugir do lugar comum e surpreender o cliente.
ARQUITETURA E INTERIORES
Carolina esteve na Bienal de Veneza deste ano e refletiu sobre a curva da arquitetura, de onde veio, por onde passou e para onde vai.
- O tema do evento foi Back to Fundamentals (De volta aos fundamentais). A partir daí, foram montadas salas com tudo que é essencial. Havia uma sala só com portas, outras só com coberturas, outra com só muros. A ideia do curador, Rem Koolhaas, era fazer os visitantes pensarem no que de fato é fundamental. Eu acho que realmente precisamos pensar na arquitetura como algo menos fantástico, menos plástico e mais essencial.
Um exemplo dessa linha de pensamento da arquiteta se reflete em uma das ideias arquitetônicas que deveriam ser aposentadas no país:
- O vidro espelhado traz a imagem da América, da modernidade, do high tech, e nós somos um país tropical. Se a ideia é proteger do sol, causa exatamente o efeito contrário, porque a luz reflete no solo e aquece o ambiente. Existem outras soluções arquitetônicas verdadeiramente sustentáveis para proteger do sol, como brises, sombreamento, paisagismo.
Maurício concorda com a colocação da arquiteta:
- Pretensão é a coisa mais ultrapassada que pode existir. Você ser neoclássico quando você não é. Você ter um telhado germânico quando se está no Brasil.