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Professores querendo lecionar e alunos que desejavam ter aulas encontraram portões e semblantes fechados nesta segunda-feira em escolas que foram ocupadas em Porto Alegre e em Caxias do Sul. Na Capital, estudantes de uma escola técnica foram impedidos de chegar às salas por colegas do Ensino Médio. Já na Serra, professores que não participam da greve da categoria tiveram seu ingresso impedido em dois colégios.
Houve princípio de confusão em ambas as cidades, e a Brigada Militar acabou sendo acionada para evitar conflitos. Os casos expõem a insatisfação de parte dos alunos e professores que, contrários à paralisação do magistério e à ocupação das escolas, encontram entradas bloqueadas por seus colegas, que reivindicam melhorias na estrutura das escolas e reposição salarial, entre outras pautas.
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Pelo menos dois dos colégios estaduais ocupados em Porto Alegre tiveram, na manhã desta segunda-feira, registro de tumulto entre pais, alunos que queriam que ter aula e estudantes mobilizados nas ocupações.
Na Escola Técnica Parobé, na região central da Capital, a confusão ocorreu pouco antes das 10h, quando alunos que teriam aulas foram impedidos por colegas de pegar as chaves da salas de aula. Houve bate-boca, e estudantes acabaram encerrando a ocupação, hostilizados por outros alunos. A Brigada Militar foi chamado ao local para acompanhar a saída do grupo.
Por volta das 11h, a diretoria da escola estava reunida, e somente estudantes poderiam deixar a instituição. Funcionários da escola cuidavam os portões, orientando que a entrada não era permitida.
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Na Escola Estadual Presidente Roosevelt, no bairro Menino Deus, o tumulto ocorreu no início da manhã, quando pais e professores não grevistas teriam discutido com alunos que ocupam o prédio principal da escola desde a noite da última quinta-feira.
De acordo com Gabriel Fernandes, 17 anos, aluno do 3º ano e presidente do grêmio estudantil da Presidente Roosevelt, havia um acordo com a direção da escola, que teria sido descumprido.
– Ficou acertado que iríamos ocupar todo este prédio e de que não entraria ninguém nele, além dos que estão ocupando. Os alunos com aula teriam aulas no prédio dos fundos. Mas a diretora não cumpriu o acordo, abriu os portões deste prédio, e nós fomos ameaçados e agredidos, fisicamente, inclusive, por professores não grevistas.
Zero Hora esteve na instituição a abordou a diretora da escola, a professora Maricy Bonorino, que apenas respondeu que não tinha "nada a ver com isso" e se retirou.
Pais e mestres se posicionam pela continuação das aulas
Para Vitor Vieira, representante do grupo informal de pais de alunos da Roosevelt (criado devido à ocupação), a confusão se deu devido à revolta de pais que não têm onde deixar seus filhos no horário letivo e de professores que estariam sendo impedidos de dar aula.
– Após a confusão, no entanto, fizemos uma ata em que ficou acordado que o colégio vai ficar com o portão principal aberto para a entrada de todos. Os alunos ocupantes poderão continuar no prédio principal, e o que têm aula terão acesso ao pavilhão de trás.
O grêmio estudantil da escola nega que professores tenham sido impedidos de dar aula. Segundo eles, o pavilhão dos fundos esteve disponível todo o tempo para a realização de aulas. Uma nova assembleia de alunos da escola foi convocada no fim desta manhã, mas a pauta não foi divulgada para a imprensa.
A Federação das Associações e Círculos de Pais e Mestres do Estado declarou posição contrária à ocupação das escolas, defendendo o direito de professores e alunos que não aderiram aos protestos continuarem tendo aulas.
– Os alunos que querem ter aula não conseguem. Não pode uma minoria ocupar o espaço de uma maioria. Estamos acompanhando a situação junto com a secretaria (da Educação) e continuamos em favor do diálogo – afirma Berenice da Costa, presidente da federação.
Confusão também em escolas ocupadas na Serra
A polícia também teve de intermediar um princípio de confusão no Instituto Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul. Alunos colocaram cadeiras em frente ao portão para bloquear o ingresso dos colegas, e uma professora ligou para a Brigada, que foi até o local e negociou a liberação da entrada.
Também na Serra, o bloqueio do portão de acesso principal à escola Emílio Meyer deixou alguns professores que não participam da greve da categoria indignados. Durante a manhã, representantes de alunos, professores e funcionários pediram ao Ministério Público (MP) a liberação do acesso total às escolas.
– Uma das preocupações é com a situação dos alunos menores, que querem ter aula e o acesso é negado – apontou a titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), Janice Moraes.
Conforme o subprocurador geral de Justiça do Estado, Fabiano Dallazen, o Ministério Público tem feito um levantamento sobre as escolas ocupadas e as pautas de reivindicação dos alunos na tentativa de contribuir para uma solução. Por enquanto, o MP não planeja pedir a reintegração de posse desses colégios ou sugerir a remoção de alunos por parte da Brigada Militar.
– Não queremos atropelar o tempo do Estado, mas contribuir com o diagnóstico. Optar pela desocupação ou o uso da força é uma atribuição da Secretaria da Educação, o MP não vai ingressar com ações neste momento. Mas, se a situação persistir, podemos ali na frente reavaliar – garantiu Dallazen.
Conforme a página do movimento Ocupa Tudo RS, há 128 escolas ocupadas em mais de 50 cidades no Rio Grande do Sul. Em levantamento feito por Zero Hora, 32 confirmaram a ocupação, 84 não atenderam as ligações da reportagem e 12 não confirmaram a informação divulgada pelos organizadores das manifestações no Facebook.
* Zero Hora