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Quando a presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, abrir a assembleia geral desta quinta-feira, a categoria estará diante da decisão sobre os rumos de uma das mais longas greves do movimento. A paralisação de 52 dias supera as ocorridas nos últimos 25 anos.
Uma das explicações, compartilhada por professores, estudantes e pela própria Secretaria Estadual da Educação (Seduc), é o fato de a mobilização do magistério ter ocorrido ao mesmo tempo que as ocupações lideradas por alunos – em 11 de maio, o Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot foi a primeira escola ocupada no Rio Grande do Sul; dois dias depois, os professores deflagravam a greve.
– O primeiro ganho não foi do Cpers. Foi da escola pública, com essa aliança cimentada entre pais, alunos, professores e funcionários. Houve capacidade de diálogo sobre a importância da greve, sobre o direito de greve – analisa Helenir, ressaltando que a paralisação também se tornou possível pelo diálogo da direção com a base. – Acredito que qualquer movimento tem que ser construído no chão da escola – acrescenta.
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Para o presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges), Marcos Prestes, a ideia de que houve uma conexão entre movimentos estudantis e de professores é uma realidade. Ele cita pautas convergentes que possibilitaram a aproximação, como a necessidade de melhoria na infraestrutura e contratação de professores.
– Nós vivenciamos todos os dias os problemas da educação com os professores, sempre acompanhamos o quão defasado é o magistério e a remuneração. E as ocupações acabaram dando uma proporção gigantesca a isso.
Falta de propostas motiva resistência
Rejane Oliveira, presidente do sindicato por duas gestões, vê que a manutenção da greve por mais de 50 dias está ligada ao fato de o governo não apresentar propostas financeiras que contemplem toda a categoria, já que a garantia do Executivo de não revisar os critérios de difícil acesso não atinge a todos os trabalhadores.
– Nossa linha é de enfrentamento com o governo e de ter ações radicalizadas para que ele recue do ataque aos direitos da categoria. Não podemos dar sossego enquanto não atender a nossa demanda – diz Rejane, do Movimento de Luta Socialista (MLS).
Oposição à atual direção do Cpers, Rejane pondera que, em outros anos, foram feitas outras reivindicações combinadas à greve, como manifestações em frente às residências dos então governadores Yeda Crusius (PSDB) e Tarso Genro (PT):
– Cada luta tem um processo diferenciado.
Na visão de Berenice da Costa, presidente da Federação das Associações e Círculos de Pais e Mestres do Rio Grande do Sul (ACPM), a adesão neste ano é menor, o que teria gerado menos pressão para retomada das aulas:
– Felizmente, um maior número de alunos está em aula. A motivação de aumento de salário é efetiva. Porém, temos de pensar nos alunos, fazer outro encaminhamento.
Reajuste salarial é descartado pelo governo
Um dos entraves ao fim da greve, desde o primeiro momento, é a questão salarial. Enquanto os professores pedem reposição e pagamento do piso nacional, o governo de José Ivo Sartori (PMDB) contrapõe dizendo que não há recursos financeiros.
– Sempre colocamos a mesma posição: pela grave crise financeira, embora reconheçamos a reivindicação da reposição salarial, o Estado não tem condições de alcançar qualquer tipo de reajuste. Nesta negociação, não conseguimos avançar, não por falta de vontade política, mas por falta de condições materiais – afirma o secretário estadual da Educação, Luís Antônio Alcoba.
Os professores querem que se estabeleça uma mesa de negociações para tratar de reajustes.
– Não podemos criar uma falsa expectativa nos professores, dizendo que vamos conseguir um reajuste quando não vislumbramos condições para isto – acrescenta Alcoba.
O grupo de professores exigiu a garantia de que o governo estadual revogará a portaria sobre a análise de critérios de difícil acesso e que não haja desconto pelos dias parados nem criminalização de estudantes, professores e funcionários que participaram de movimentos de ocupação ou da greve.