Letícia Duarte
Enquanto a maioria das pessoas sofre para ajustar seu tempo, outros transformam a angústia em negócio. Depois de anos de pesquisa, o engenheiro e ex-professor no Instituto de Informática da UFRGS Jaime Barreiro Wagner, 60 anos, criou uma empresa dedicada à gestão do tempo. Mas discorda da máxima de que "tempo é dinheiro".
- Tempo é vida, defende.
Como surgiu seu interesse pela gestão do tempo?
Jaime Barreiro Wagner: Aos 20 anos perdi meu pai. Trabalhava em dois lugares, estudava engenharia e iniciei o mestrado junto com o último ano da faculdade. Comecei uma empresa industrial de fundo de quintal, baseado apenas na vontade e na coragem da ignorância: a Digitel, que cresceu e ainda deu origem à Altus. Dava aula na UFRGS, e tinha três filhos pequenos e pagava o preço: ansiedade, angústia, tensão. Após um crescimento profissional acelerado, sentia-me pouco competente. Assim, meu interesse pela disciplina da gestão do tempo era aprender a ser mais eficiente, fazer mais em menos tempo. Usei as técnicas, mas com o acúmulo de demandas, procurava fazer tudo, indo sempre além dos limites. Tive um burnout (síndrome de bournout, associada ao esgotamento profissional) causado pelo estresse cujo sintoma foi uma depressão profunda. Hoje vejo que aquilo era uma má administração do tempo. Após essa crise passei a refletir mais profundamente sobre o tema e, com alguns anos de estudo e prática, reconheci que, mais do que fazer rápido, o que importa é viver bem - a filosofia, mais do que a eficácia ou a eficiência. E que, mais do que um recurso econômico, tempo é vida. Se soubesse isso antes, evitaria tanta dor. Isso me levou a uma nova abordagem do problema que envolve a prática de três disciplinas: reflexão, planejamento e foco em dois processos complementares: o Ciclo da Eficiência e o Eixo da Eficácia.
Que estratégias podem ser utilizadas para organizar melhor o tempo no dia a dia?
Wagner: No dia a dia, é essencial uma parada diária para priorizar os compromissos marcados e as tarefas. Um bom método é fazer uma lista: em primeiro lugar, se coloca o que é importante e urgente, em segundo o que é importante e não urgente, e, em terceiro, o trivial. Isso ajuda a definir prioridades. Outra dica é parar pelo menos uma vez por semana para examinar sentimentos, metas e coerência _ essa é a prática da reflexão e do planejamento de longo prazo. As pessoas em geral não planejam _ não têm tempo para ganhar tempo. Vivem na pressa. Mas é o foco que dá mais eficiência, não a pressa. Pressa é ansiedade. Na pressa se reage sem pensar às urgências e não se age sobre o importante. O grande problema moderno é a profusão dos distratores. Ficamos hiperconectados e hiperdistraídos. Existe muita informação e pouco conhecimento. Muita iniciativa e pouca terminativa. As pessoas não dão continuidade aos projetos quando enfrentam dificuldades, e têm uma nova ideia revolucionária, deixando tudo o que é difícil pela metade. A construção é um fazer continuado. A gente nunca é, estamos nos tornando.
Em meio a tanta informação, como selecionar o que é realmente importante?
Wagner: As pessoas confundem importante com urgente. Geralmente priorizam o urgente, o rápido e imediato e esquecem o importante, até porque o mais importante é difícil e demorado. Reagem para evitar perdas mas não agem para assegurar valor. Importância é valor, urgência é prazo. Por exemplo, o que é melhor, cuidar da saúde quando se tem ou quando se perde? A maioria só vai ao médico quando está doente, ou seja quando perde a saúde. Se as pessoas cuidassem da saúde regularmente, como algo que é importante, não chegariam ao ponto urgente. Tudo o que se prioriza se tem mais. Se priorizar ansiedade, terá mais ansiedade. Se priorizar o valor, gerará mais valor. A boa administração do tempo é a ética: agir conforme seus valores. Mas há quem diga uma coisa e faça outra.
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