
Quando nuvens vêm desbotar o céu de Porto Alegre pode ser agouro de água, e nem todo chão é boa esponja. A capital alaga, a chuva abre feridas na pele da cidade, e o poder público parte para aplicar curativos. Mas não havia, nessa rotina, uma fotografia das áreas propensas a enchentes, e aí entra o Laboratório de Tratamento de Imagens e Geoprocessamento (LTIG) do Departamento de Geografia da PUCRS.
O LTIG acaba de simular as áreas mais suscetíveis a inundações em Porto Alegre. O projeto, coordenado pelo professor Regis Alexandre Lahm, submeteu um mapa digital do terreno da cidade a um software desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os cálculos foram, então, cruzados com matérias publicadas nos veículos de comunicação, e se confirmou a coincidência de pontos críticos: se o programa previa Goethe alagada, o jornal noticiava Goethe alagada.
- Notamos também que, no tocante a desastres naturais por deslizamento, a maioria das ocorrências é percebida em áreas de baixa renda, onde são construídas habitações que não suportam a intensidade da chuva. Já os alagamentos se concentram no centro, não respeitam questões de classe - observa Lahm.
Projeto de iniciação científica de Jonas Milanesi, aluno do
6º semestre de Geografia, o Mapa de Vulnerabilidade Social a Desastres Naturais agora passa por fase de refinamento.
Além de reajustar a precisão, os dados serão situados no tempo, para que a equipe possa tirar conclusões sobre as causas de inundações em dias específicos.
Em 2013, Porto Alegre foi 26% mais regada do que o esperado, segundo a Somar Meteorologia.
Os 140 mm do maior acumulado mensal da capital gaúcha, em agosto, não chega aos 169 mm de um dezembro carioca nem aos 238 mm de um janeiro paulistano. Ainda assim, temos chuva o bastante para afogar a garoenta Londres, onde outubro é mês molhado, mas a média mal passa dos 70 mm.
Uma terra de grandes e intensos aguaceiros
De acordo com o Departamento de Esgotos Pluviais, a topografia da cidade é propícia para enchentes. Temos aqui chão enfunado por morros, riscado por 27 arroios e rodeado de lagos e rios. Na década de 1970, as áreas urbanas avançaram 46%, deitando solo impermeável onde antes havia a drenagem natural da vegetação.
Nas regiões baixas, cerca de um terço da área urbanizada não sobe mais do que três metros acima do nível do mar. É cenário pedindo uma tradução geográfica.
- Agora queremos colocar o recurso do mapa à disposição da prefeitura, para auxiliar nas tomadas de decisão da administração pública - anuncia Lahm, acrescentando que ainda há muito a fazer.