
Entre os dois perfis mantidos no Facebook, a diferença fica evidente pelo título que antecede o nome em um deles: "professora". À frente de uma turma de 5º ano no Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, Katherine Bridi optou por separar, no universo virtual, as esferas pessoal e profissional de sua vida, adaptando os conteúdos postados.
Dúvidas sobre a melhor maneira de se relacionar com alunos e pais nas redes sociais são frequentes no dia a dia de quem atua na área da educação. É preciso aceitar todos os convites de amizade? Deve-se discutir questões da sala de aula via chat? É adequado postar fotos dos períodos de lazer? Aos 28 anos, Katherine é querida pela turma e valoriza o contato extraclasse, mas sempre com cautela.
Na página particular, liberada para amigos e familiares, estão fotos de viagens, ao lado do noivo, em festas. Na profissional, exibe dicas e links relacionados às disciplinas do currículo e também alguns registros da rotina longe da escola, mas com restrições.
- Sempre tive a convicção de que não aceitaria alunos no perfil pessoal. Não que eu faça algo fora do comum, mas quero me preservar - justifica.
Os mestres acabam encontrando soluções variadas para administrar o interesse que cerca sua presença na internet. Há quem altere a grafia do nome ou utilize o sobrenome menos conhecido para dificultar as buscas e não ter de barrar usuários.
Outros liberam o acesso apenas a ex-alunos ou só para adolescentes a partir de determinada idade. Dimis Silveira, que leciona inglês, decidiu não recusar nenhum convite - soma quase 5 mil amizades no Facebook. Nos últimos dias, compartilhou fotos dos filhos no apartamento próprio recém-adquirido e recebeu centenas de curtidas e comentários com felicitações.
- Os alunos te veem como um ser humano que também tem família, tem gostos. Mas dou limite, tem coisas que não falo. Não passo nota nem pareceres. Digo para me procurar em aula - explica Silveira.
Apoio ao bom senso, sem regras ditadas
Em geral, as escolas não ditam regras aos docentes, recomendando apenas bom senso e cautela com as postagens. Em um episódio recente, uma professora da Capital motivou reações exaltadas de pais ao publicar a foto de uma celebração na praia, em um cenário que incluía uma mesa com bebida alcoólica.
Para evitar criar mal-entendidos e constrangimentos semelhantes, Marícia Ferri, diretora pedagógica do Colégio Farroupilha, ressalta que é fundamental o educador lembrar que está sempre sendo observado.
- Hoje não existe diferença entre vida pública e vida privada. As pessoas se expõem muito nas redes sociais. O professor é formador de opinião, trabalha com valores, é um exemplo. É professor o tempo inteiro - destaca Marícia.
Recomendações
Aos pais
- Procure tratar pessoalmente das questões escolares de seus filhos. Agende um encontro com o professor, o supervisor ou o diretor e evite discutir temas mais delicados via redes sociais.
- Monitore o que crianças e adolescentes fazem quando estão online.
Aos alunos
- Pergunte ao professor se ele costuma permitir o acesso dos estudantes a seus perfis nas redes sociais. Em caso negativo, é importante respeitar a posição dele e não insistir.
- Aproveite o tempo em que estiver na escola para tirar dúvidas sobre notas, provas e trabalhos.
Aos professores
- Não importa se você dá aula para um total de 10, 80 ou 200 alunos. Como professor, é uma pessoa pública e deve manter isso sempre em mente ao interagir no Facebook, no Twitter ou no Instagram. Sirva de exemplo.
- Esclareça a finalidade de suas páginas. Um aviso pode ajudá-lo a evitar aborrecimentos: "Neste perfil, não tratarei de assuntos profissionais", por exemplo.
- Evite uma superexposição ao publicar fotos. Reflita sobre os elementos e o cenário daquela imagem e se é adequado compartilhá-la.
- Revise bem o texto de suas postagens. Um erro de digitação ou um deslize gramatical podem comprometê-lo.
- Um mesmo comentário pode provocar interpretações diferentes ao ser escrito e ao ser falado. Algo que foi dito de forma descontraída no recreio pode ser avaliado como agressivo pelo pai do aluno que lê a frase fora de contexto na tela do computador.
Fontes: Alessandro Souza, diretor do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM-Sul, e Marícia Ferri, diretora pedagógica do Colégio Farroupilha