De um lado, a carência de um cão encontrado atropelado na rua e que é o morador mais antigo do canil municipal de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Do outro, um senhor de cabelos brancos, franzino, que foi abandonado pela própria família e reside no asilo público da cidade há anos.
Esses dois personagens, ambos vítimas de maus-tratos, foram unidos por um projeto chamado de Cão-terapia. A iniciativa utiliza os cães para sociabilizar e fazer fisioterapia com os idosos asilados. Organizada pela prefeitura, através da Vigilância Sanitária, a ação estreou nesta semana e deve ser realizada a cada 15 dias.
- Foi surpreendente e emocionante ver o sorriso dos velhinhos e a alegria dos cães, com os rabinhos balançando - observa Bruna Molz, coordenadora do projeto e chefe de divisão do canil.
Por enquanto, três cachorros estão sendo treinados para realizar o trabalho com os 92 idosos internados no asilo. Os animais escolhidos foram o Veio, o cão idoso citado no começo da reportagem, mais a Flópi e a Branquinha, ambas cadelas que foram abandonadas prenhas e seus filhotes foram doados, enquanto elas permanecem no canil.
- Nossa ideia é chamar a atenção da população para esses animais, vítimas de maus-tratos, para que sejam adotados. Além disso, vamos tentar adestrar todos e quem sabe, as pessoas vendo eles obedientes e fazendo coisas engraçadinhas, tenham mais vontade de levá-los pra casa - comenta o fisioterapeuta e adestrador André Fröhlich.
Atuando como voluntário no projeto, Fröhlich já desenvolve um curso pioneiro no Estado, na Feevale, em Novo Hamburgo, que objetivava capacitar estudantes a treinar cães para que eles possam fazer parte de tratamentos, estimulando o paciente, seja uma criança com deficiência, um idoso ou um portador de Alzheimer ou depressão, por exemplo. O trabalho é chamado de terapia assistida por cães (TAC).
- Nós, gaúchos e brasileiros, ainda engatinhamos no uso de cães para terapias, mas na França e nos Estados Unidos eles entram em hospitais e ajudam pacientes há muito tempo - comenta o fisioterapeuta.
Segundo ele, o Cão-terapia inova ao aplicar a técnica em idosos asilados, que não apenas apresentam problemas de saúde e motores, como de carência também.
- Nesse primeiro contato, fizemos apenas sociabilidade, em que os velhinhos puderem levar os cachorros pra passear, fazer carinho e brincar com eles, e já foi emocionante. Acredito que devemos ter ótimos resultados - afirma Fröhlich, citando, como exemplo da forte relação homem-animal o caso do cachorro que ficou esperando o dono na porta do hospital, em Passo Fundo, por oito dias.
O asilo municipal de Santa Cruz do Sul é mantido somente com doações e com parte de aposentadoria de alguns internos. Como alguns foram abandonados e outros têm doenças, a coordenação do local não autoriza a identificação dos idosos nas fotos.
