Atleta da Seleção Brasileira, Ricardinho é uma das estrelas do campeonato
Foto: Fernando Gomes / Agência RBS
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Ricardinho domina a bola, que parece grudar junto ao tênis vermelho, dribla um zagueiro, entorta outro com um simples negaceio, mete a pelota entre as pernas de mais um beque adversário numa clássica janelinha, invade a grande área e solta uma bomba de pé direito: é gol. Detalhe: Ricardo Alves, Ricardinho, 25 anos, o craque das fintas mágicas e dos passes certeiros, é cego.
Nascido em Osório, no Litoral Norte, Ricardinho brilha na Copa Caixa Loterias de Futebol 5 - a primeira divisão nacional dos atletas com deficiência visual -, que termina amanhã, em Cachoeirinha. Jogadores de 10 Estados e do Distrito Federal disputam o troféu, em busca de lugar na seleção brasileira que irá ao Mundial do Japão, em novembro.
Atuando pela equipe da Associação Gaúcha de Futebol para Cegos (Agafuc), Ricardinho é uma das estrelas do campeonato, ao lado de Jefinho, outro astro da seleção brasileira. A cada gol que marca, afirma uma carreira de superação. Até os seis anos, enxergava e jogava bola nos campinhos de Osório, descalço, sem se incomodar com as rosetas - erva daninha espinhenta. Acometido por descolamento de retina nos dois olhos, passou por cinco cirurgias, em vão.
- Quando perdi a visão, pensei que nunca mais poderia jogar - lembra Ricardinho.
Reaprendeu a driblar e a chutar no Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre. Ao retomar a habilidade, tornou-se um dos melhores do mundo. Destacou- se nos Jogos Paraolímpicos de Pequim e Londres, estufando as redes adversárias.
- Realizei o sonho de ser jogador. Hoje, vivo disso - diz ele.
A Copa Caixa Loterias reúne atletas selecionáveis. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), Sandro Laina, ressalta que os jogadores são de alto rendimento. Precisam usar caneleiras de proteção, porque os zagueiros não aliviam na marcação.
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Dificuldade é manter equipe
O campeonato é tão renomado que atrai futebolistas cegos da Argentina, do Paraguai, da Colômbia e da África. O argentino Froilan Padilha, o Coki, 35 anos, é o defensor no time de Ricardinho. Raçudo, chega junto e não tira o pé nas divididas. Lesionou-se durante a partida, mas pediu para continuar.
- Me inspiro no Mascherano - diz Coki, referindo- se ao conterrâneo que é defensor no Barcelona.
Ao final da partida de ontem, depois de marcar os três gols da vitória sobre o Mato Grosso, Ricardinho ganhou tratamento de ídolo.
Concedeu entrevistas à Rádio CFA (Clube de Futebol Adaptado), de Curitiba. Como a maioria dos boleiros, disse o básico:
- É bom jogar em casa, embora a gente saiba que a cobrança é maior. Agora é descansar para o próximo jogo.
Na saída da quadra, Ricardinho e companheiros receberam uma avalanche de abraços, tapinhas nas costas e parabéns. As primas Talia Luana da Silva e Mireia Roberta dos Santos, ambas de 13 anos, pediram para tirar foto com o craque.
E contou com o apoio da mascote da Agafuc, a nenê Juliana Assum Darski, de 10 meses, que vai aos jogos no colo da mãe, Jaqueline, 40 anos.
Para conferir
A Copa Caixa Loterias tem jogos hoje (27 de setembro) e amanhã, em Cachoeirinha. A final será domingo, às 9h30min, no ginásio do Sesi, em Cachoeirinha, na Rua Vereador José Stuart da Silva, 1015. A entrada é franca.
* Zero Hora