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O ano de economia fraca e preços em disparada reforça a necessidade de tratar o dinheiro com mais cuidado. Saber equilibrar a renda mensal com as despesas e fugir de investimentos que sequer empatem com uma inflação que ameaça bater em 10% em 12 meses são medidas urgentes, apontam consultores financeiros.
A caderneta de poupança - aplicação preferencial dos brasileiros - não tem conseguido bater o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos últimos 12 meses, o rendimento da poupança venceu a variação do IPCA em apenas quatro. Não é por acaso que os brasileiros passaram a esvaziar suas cadernetas - seja para pagar dívidas, seja para aplicar em algo mais rentável. Em julho, os saques superaram as aplicações em R$ 2,45 bilhões.
Se há uma boa notícia, é que a subida da taxa básica de juros (Selic) melhorou a rentabilidade de outros tipos de investimentos de baixo risco. CDBs, LCIs, LCAs e Tesouro Direto são opções cada vez mais atraentes (veja ao lado). Mas é preciso conhecer os custos e as condições para cada tipo de aplicação para tomar a melhor decisão.
- Há muita incerteza quanto ao que vem pela frente, sobre renda e desemprego. É fundamental não criar dívidas e buscar aplicações financeiras que tragam alguma segurança - afirma o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.
A falta de um "colchão financeiro" tem levado muitos brasileiros a recorrer a um socorro caríssimo: o crédito rotativo, ativado quando se paga a parcela mínima do cartão de crédito. Essa modalidade, que chega a cobrar juros de 15% ao mês, chegou a um saldo de R$ 33,1 bilhões no fim de junho, o maior desde 2007.
- Com orçamento apertado, as pessoas deixam a dívida do cartão rolar, e pagam as contas fixas do mês. Mas é uma armadilha, pois uma dívida de R$ 1 mil no cartão vira R$ 2 mil em cinco meses e meio se não for quitada - exemplifica Oliveira.
Cinquenta passos para driblar a crise
A dificuldade para equilibrar salário com os gastos têm impactado diretamente no poder de compra da população, que tem deixado para depois a troca do automóvel, da geladeira ou do fogão e passou a dispensar gastos não emergenciais. Esse comportamento gera um ciclo vicioso: o comércio vende menos, desemprega, e esfria ainda mais a economia.
Conforme alguns analistas, o consumo poderá ter queda de 0,7% em 2015, o maior tombo desde os anos 1990. Em todo esse período, em apenas quatro anos as compras no varejo recuaram - o último foi em 2003. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou uma redução de 27,9% na intenção de consumo das famílias em julho em relação ao mesmo mês de 2014.
- A crise chegou e é transversal em todas as classes - diz Renato Meirelles, presidente do instituto Data Popular.
De acordo com pesquisa da organização comandada por Meirelles, realizada no início do mês com 3 mil pessoas, 42% dos brasileiros deixaram de pagar uma conta para quitar outra ao longo dos últimos 12 meses.
Em imóveis, investimento tem de ser seletivo
Em épocas de crise, uma das primeiras opções dos brasileiros para proteger o dinheiro é aplicar em imóveis. Especialistas dizem, no entanto, que nem sempre é a melhor alternativa. Um imóvel dificilmente irá valorizar em um ano o mesmo que têm subido aplicações da renda fixa, que chegam a render 12% no atual patamar da taxa básica de juros (Selic). Se for para comprar a um preço mais baixo e revender para fazer dinheiro, é preciso ter a calculadora na mão.
- Para um negócio com imóvel valer a pena, é preciso comprar na planta com desconto, mas isso exige um investimento muito alto - aponta Rafael Severo, fundador da Escola de Investidores, que oferece cursos de investimentos imobiliário.
Melhores oportunidades podem estar na compra de apartamentos usados em leilões ou que sejam uma pechincha, em que o vendedor tenha pressa para fazer negócio. Para quem pretende comprar um imóvel e colocar para alugar, Severo aponta alguns cuidados necessários. Imóveis pequenos, em bairros valorizados e próximos à infraestrutura de transporte costumam render mais dinheiro.
E há o sentido inverso: os que querem vender para aplicar o rendimento. O diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira aponta que é preciso cautela nessa operação. Ficou mais difícil comprar imóvel em razão da escassez de crédito e a insegurança com a economia, o que pode forçar a uma redução no preço de pedida.
- Talvez seja mais adequado esperar o mercado voltar a aquecer antes de colocar mais um imóvel no mercado - afirma Oliveira.