
Pesquisas confirmam aquilo que o consumidor está sentindo no bolso já faz tempo: a alimentação está mais cara. E o aumento nos preços tem atingido itens básicos da mesa da população, como ovo, pão e açúcar.
No levantamento feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS, estão indicadas variações que chegam a 75% do preço médio ao longo de um ano em Porto Alegre – este é o caso da batata-inglesa, que pulou de R$ 2,82 em maio de 2015, para R$ 4,96 no mesmo período de 2016. O feijão (17,7%) e o leite longa vida (15,58%) são dois campeões de queixas da população.
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Como se não bastasse o alimento estar mais caro, ingredientes utilizados na preparação também contribuem para que o prato fique mais dispendioso. O alho e o óleo de soja, muitas vezes usados no preparo do feijão, tiveram elevação de 64,51% e 27,93%.
Ao ir às compras, os clientes acabam fazendo escolhas. A auxiliar de serviços gerais Dina Lopes, 61 anos, trocou o brócolis e a couve-flor pelo repolho, pois "é mais barato e rende mais":
– A carne também está muito cara (patinho teve aumento de 17,89%, chegando a R$ 26,81 o quilo), tem de usar o frango ou deixar de comer. Tenho comprado só de vez em quando.
Lili Hübner, 76 anos, é outra que mudou os hábitos.
– Os hortifrutigranjeiros, de forma geral, subiram. O tomate (que teve queda de preço) continua muito caro, então, estou usando o molho pronto – relata a aposentada.
Professor da Faculdade de Economia da PUC-SP, José Nicolau Pompeo dá uma informação alentadora: a tendência é de que, nos últimos três meses de 2016, haja redução de preços. Mas, por enquanto, o trabalhador sente no bolso a queda no poder de compra:
– No final do ano, talvez o governo tome algumas decisões de tentar importar alguns tipos de alimento para baratear os produtos – afirma Pompeo. – Um fator que impacta no preço dos alimentos é o clima. Chuva demais, chuva de menos, essas variações influenciam na produção de alimentos porque reduzem a oferta, e o preço aumenta – acrescenta.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, também chama atenção para a variação ocasionada por safra e questões climáticas, fatores que estimulam mudanças no comportamento do consumidor. Longo diz que
65% dos clientes vão a mais de quatro canais de varejo, ou seja, correm atrás da loja mais em conta.
– Isso mostra que o cliente está mais atento e, com malabarismos, faz valer o dinheiro. Hoje, ele ensina as empresas a se adequarem – ressalta.
Aumento é generalizado,
afirma economista
Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, explica que os aumentos nos preços não estão restritos aos alimentos. Diz que a inflação tem de ser tratada como um problema monetário, uma "doença da economia", e não como um fenômeno casuístico. Para ele, isso é resultado de decisões erradas na economia.
– Se com R$ 100 eu compro x produtos em um ano, no outro tenho que conseguir comprar os mesmos x. Se tu não consegues fazer isso, é porque ocorreu um erro na condução da economia – analisa.
Luz cita déficits fiscais e aumento de crédito incompatível com a oferta como exemplos desses erros.
– Por que os alimentos estão mais caros? Pela mesma razão que está mais caro construir uma obra ou cortar o cabelo. Quando nós vamos ao supermercado, é a prateleira dos alimentos que está mais cara ou todas as prateleiras? A inflação é o aumento generalizado dos preços – salienta.
E algumas elevações geram uma reação em cadeia. Quando a energia elétrica e os combustíveis têm alta, o impacto é sentido desde a produção até a comercialização.