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Chamado de "modo restrito", a ferramenta de controle parental do YouTube, quando ativada, limita os resultados de buscas e os vídeos que o usuário pode assistir na plataforma. Direcionado para bloquear conteúdo possivelmente sensível para audiência de menores de 18 anos, o filtro está sendo acusado pelo público de censurar vídeos sem justificativa.
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Na última semana, criadores de conteúdo e youtubers ao redor do mundo, especialmente da comunidade LGBT, têm questionado o modo como esse recurso funciona. No final da página, quando o usuário é logado, ele pode ligar e desligar o recurso. Vídeos que falam sobre descoberta da sexualidade ou temas do dia a dia de jovens homossexuais e transexuais desaparecem quando o modo restrito é ativado.
Vídeos de artistas, como os da cantora Lady Gaga, por exemplo, também são excluídos da navegação. A gama de resultados de uma busca feita com o recurso ligado é diferente de quando é desligado. Os usuários nas redes sociais afirmam que o site não tem uma lógica clara de funcionamento para esses filtros.
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O YouTube explica em seu site oficial que o modo restrito pode ser usado para "ajudar a filtrar conteúdo potencialmente censurável que você não quer ver ou não quer que outras pessoas da sua família vejam enquanto usam o YouTube" e que denúncias de usuários são levadas em consideração para aplicar a barreira. Youtubers como Rowan Ellis, do Reino Unido, que fala sobre cultura pop sob a perspectiva feminista e gay no seu canal, diz que o filtro reforça um preconceito: de que conteúdo LGBT não seria "adequado para famílias".
Murilo Araújo, 26 anos, do canal Muro Pequeno, com mais de 43 mil inscritos no YouTube, é um dos criadores que têm seus vídeos excluídos da plataforma por quem usa o modo restrito. O baiano utiliza o site para falar sobre assuntos do dia a dia e temas como apropriação cultural, cristianismo e liberdade sexual. Ele acredita que o erro do YouTube esteja no funcionamento do algoritmo do site. Ele relata que não só conteúdos relacionados com temas LGBT estão sendo prejudicados, mas outros grandes canais para jovens também estariam sendo barrados pelo filtro.
– O meu conteúdo pode não ser para crianças de oito anos, mas um adolescente de 16 tem plenas condições de ver. A restrição de idade não é clara, e a gente produz conteúdo para um público adolescente que está vivendo processos de descoberta e que não tem voz na grande mídia – diz.
Murilo acredita que o erro nas restrições de conteúdo impacta diretamente o trabalho dele como criador de conteúdo, que é uma profissão, e prejudica o acesso à diversidade na internet.
– Conteúdos que são vistos como restritos podem perder a visibilidade, circulação e chance de patrocinadores. O YouTube é também um espaço de trabalho informal para que as pessoas possam contar suas histórias. E aí o que não é "mainstream" ou "família" fica fora? Isso rompe com a autonomia financeira de muitas pessoas – diz.
Depois de milhares de manifestações pelo Twitter, o YouTube fez um pronunciamento na rede social afirmando que tem "orgulho de representar as vozes da comunidade LGBTQ na plataforma" e que a intenção do modo restrito é filtrar conteúdo adulto. O comunicado também fala que vídeos identificados com a comunidade LGBT estão incluídos no filtro, mas alguns que teriam "conteúdo mais sensível" podem não estar. Nesta segunda-feira, o YouTube publicou novamente uma postagem dizendo que houve "confusão" e que alguns vídeos foram categorizados incorretamente.
Em um teste feito por ZH com cinco YouTubers diferentes e identificados com a causa LGBT, todos os vídeos foram bloqueados quando o modo restrito foi ativado. Um é o canal Afrontay, com mais de 7 mil inscritos. No modo restrito, o vídeo em que o jovem fala a sua opinião da militância na web foi bloqueado. Ele fala sobre o envolvimento em coletivos de direitos LGBT e da importância dos debates sobre o tema. No Canal das Bee, um dos mais populares no Brasil com 319 mil inscritos, que declara ser anti-homofobia e machismo, os vídeos também são bloqueados com o controle parental.
Greta Paz, sócia da MP4, empresa de conteúdo e estrategia focada no YouTube, afirma que vários criadores de conteúdo a procuram para entender melhor os motivos pelos quais seus vídeos foram bloqueados ou tiveram problemas na plataforma. Ela diz que o material com as regras do site torna claro o que pode ou não ter no site, mas às vezes nem sempre a justificativa para as medidas tomadas pelo YouTube são visíveis para quem faz o conteúdo.
– Com tanto vídeo que é subido todos os dias é impossível fazer um filtro manual de tudo isso. Pode ser que o algoritmo não esteja afinado de acordo com uma temática. O YouTube estimula criadores e ganha com isso?, então acho que é o direito deles reivindicar para ser visto e remunerado pelo conteúdo – diz.