
Sou cético, mas admito: 31 de dezembro é o dia para se ter esperança. É como se o ano que se avizinha se condensasse em um dia, carregado de urgência, desejos e expectativa. Há quem espere um emprego melhor, outros um amor arrebatador. Minha expectativa para o ano seguinte era singela: sair cedo do trabalho e curtir os primeiros minutos dele na praia, cercado de amigos.
De malas prontas, cumpri as oito horas de trabalho, mas devido à minha maldita desorganização (resolução #1 para 2015), acabei saindo ao final da tarde. O plano era pegar meu amigo Leo em casa, encher o tanque e vencer os 138 quilômetros que nos separavam de Capão da Canoa.
- A estrada está tranquila, acho que vamos chegar rápido - profetizei, após dirigir alguns minutos.
Errei feio, errei rude. Tinha esquecido que quando as palavras "gaúchos", "verão" e "praia" estão na mesma frase, "engarrafamento" é sempre o sujeito oculto. Quem duvida que observe as sextas-feiras de janeiro e fevereiro, em que a estrada e os pedágios mais parecem cenários de filmes pós-apocalípticos. A população teimando em fugir da cidade antes do impacto de um asteroide.
Quatro horas de asfalto e mais de cinco
gigabytes de músicas depois, chegamos. O relógio marcava 23h32min, foi só o tempo de trocar de roupa no apartamento e ligar para nossos amigos para marcar o ponto de encontro à beira-mar. Tarefa simples se as companhias telefônicas não voltassem a 1976 a cada Réveillon. Depois de inúmeras tentativas, pipocou na minha tela um prosaico SMS:
- Estamos em um churrasco em Xangri-lá. Vamos correndo pela praia até a guarita 85. Corram daí e nos encontramos no meio do caminho - ordenou um de meus amigos.
Nunca pensei que Atlântida pudesse ser tão longe de Capão, ou eu que estava fora de forma (resolução #2). A praia já estava lotada, o aroma de velas e álcool nos alertava que a hora estava chegando. Dez minutos de corrida e a escuridão da praia não me deixava saber onde eu estava. Até que começou a contagem. Em coro os veranistas gritavam: "Dez! Nove! Oito...". Mentalmente minha contagem era outra: "Guarita 82! 83! 84...".
O novo ano chegou, os fogos queimaram, os espumantes estouraram e eu e o Leo ainda corríamos. O encontro na guarita 85 aconteceu cinco minutos depois. Esbaforidos e com delay, brindamos, bebemos e um amigo ainda brincou:
- Ano que vem marcamos o Réveillon em Laguna, te prepara!?