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O som do contato da broca com os dentes se mistura à conversa de dezenas de jovens à volta. O cenário é o de uma unidade de saúde normal, não fosse pelos estudantes curiosos que circulam por lá. É neste ambiente que Débora Cauduro, 18 anos, quer mergulhar para realizar o sonho de ser dentista. No quinto encontro da série Papo com Veterano, a vestibulanda conheceu a Faculdade de Odontologia da PUCRS, num tour conduzido por Bruna Daudt, 24 anos, que cursa o 9º semestre na instituição.
- Meu avô era dentista, mas meu interesse foi despertado, mesmo, quando botei aparelho. Aliado a isso, sempre gostei de matemática e física, e a odonto também envolve isso - explicou a universitária, que conclui o curso de cinco anos em janeiro de 2015.
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O cenário que aguarda o dentista é concorrido e exige especialização posterior. Profissionais que tentam abraçar todas as áreas podem ter dificuldade em se atualizar, afirma a professora Sandra Pagnoncelli.
- Cada especialidade da odontologia é um universo de conhecimento que exige atualização a toda hora. O ideal é que se faça no máximo duas especializações, e que sejam complementares - aconselha.
Porém, não se deixe intimidar pela concorrência. Apesar de disputado, o mercado apresenta alternativas variadas. Não é raro ver dentistas diplomados se unirem para abrir uma clínica. Para os autônomos, as áreas mais requisitadas são dentística restauradora, odontopediatria e implantodontia. Contudo, o que tem garantido a manutenção de oportunidades é o serviço público. Devido às políticas voltadas à saúde, como os programas Brasil Sorridente e Saúde da Família, o setor apresenta boas ofertas, além de vagas em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Depois de toda a teoria e de colocar a mão na massa na segunda metade do curso, Bruna se sente preparada para enfrentar o desafio de abrir seu próprio negócio em Porto Alegre. A jovem é direta ao descrever o caminho para o sucesso no curso.
- Não entre na odonto por status. Você terá de estudar muito. Quando chegar no curso, se interesse, procure atividades extracurriculares - indica.
Confira as dicas da estudante à vestibulanda Débora ao lado. Se você quer bater papo com um veterano do curso que pensa em fazer, manifeste seu interesse pelo site zhora.co/carreirasvestibular.
O início
Como qualquer curso, em Odontologia os estudantes passam por uma longa imersão teórica. No primeiro semestre, cadeiras sobre bioética dimensionam filosoficamente a ciência. Nas disciplinas de Anatomia Odontológica I e Anatomia Geral Complementar, o estudante tem o primeiro contato visual com conteúdo. Para romper a linearidade teórica, Materiais Dentários I ensaia a prática.
- No começo, você tem muita expectativa em ter contato com pacientes, mas esse conteúdo teórico é importante para conhecer as patologias e poder triar pacientes - recomenda Bruna.
Estágio
O estágio em Odontologia não é como o de outras áreas: os alunos só podem clinicar (atender pacientes) fora da faculdade com o diploma em mãos. Algumas faculdades, como a da PUCRS, oferecem atendimento ao público. A partir do quinto semestre os alunos já são autorizados a realizar, em jovens e crianças, procedimentos considerados básicos, como anestesias e restaurações.
- Com base na teoria, nos primeiros estágios os alunos aprendem a triar: documentar o paciente e analisá-lo como um todo. Nos primeiros atendimentos, o estudante realiza procedimentos pequenos, que ficam mais complexos conforme eles se aproximam da formação - relata a professora Sandra Pagnoncelli, que ministra a cadeira de Estágio em Clínica Integrada.
Extracurriculares
O curso de Odontologia oferece diversas atividades extracurriculares. São oportunidades para o aluno sair do ambiente acadêmico e trazer para a graduação mais conhecimento - prático ou teórico. Entre as opções, há trabalhos de instrução de higiene bucal em creches e comunidades, participação em congressos e em ações do Conselho Regional de Odontologia do Estado (CRO/RS) e confecção de pôsteres científicos. Em janeiro de 2014, Bruna foi à Ilha do Marajó, no Pará, participar do Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa.
- Trabalhei em um navio-hospital. Foram 15 dias, atendendo em condições muito precárias. A experiência me acrescentou muito em termos profissionais e pessoais. E foi uma atividade extracurricular. Vai muito do aluno querer e ir atrás. Tem quem faça o mínimo exigido, e outros que fazem o máximo possível - avalia a estudante.
Teoria x Prática
Quem espera pela prática desde o princípio do curso precisa ter paciência, pois os estudantes só colocam a mão na massa a partir do quarto semestre. Nas disciplinas Prótese Dentária II e Anestesiologia Odontológica, os alunos passam a manusear moldes e manequins, para simular o atendimento real que passarão a realizar no semestre posterior. Para não superlotar laboratórios, as turmas - normalmente de 60 a 70 alunos - se dividem em três grupos. Os que não estão praticando podem acompanhar por monitores de televisão procedimentos cirúrgicos realizados por professores.
- Normalmente, os professores passam casos clínicos para visualizarmos o conteúdo, que às vezes é dificultado quando fica só na teoria de livros e polígrafos. Tu começas a absorver o conhecimento na prática associando muito do que vê à teoria - relata Bruna
Odontologia humana
Por um consultório odontológico passam pessoas das mais variadas idades e perfis. Na grade curricular de Odontologia na PUCRS existem duas cadeiras voltadas à relação dentista-paciente: Psicologia Aplicada à Odontologia e Odontopediatria I e II.
- O paciente tem todo um contexto, um envolvimento emocional, questões psicológicas, e tu tens de saber lidar com isso. Atenderemos pacientes das mais variadas idades. Em Odontopediatria I e II, conhecemos as várias fases da infância - explica Bruna.
Especialização
Há diversas especializações a seguir, como ortodontia (aparelho dentário), periodontia (gengiva e suporte dos dentes), implantodontia, odontopediatria, endodontia ("tratamento de canal") e cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial.